Destaques Arquivo MPR #06
Horas antes da «Noite Sangrenta», António José de Almeida escreveu uma carta para o chefe do Governo, António Granjo.
Na madrugada de 19 de outubro de 1921, eclodiu uma tentativa revolucionária em Lisboa, que ficaria marcada pela rara violência.
Os revoltosos — republicanos radicais da Marinha e da Guarda Nacional Republicana — constituíram uma junta revolucionária presidida pelo coronel Manuel Maria Coelho e que incluía vários militares e civis.
No seu manifesto, defendiam o regresso ao espírito republicano do 5 de Outubro de 1910, mas propondo medidas radicais, como a anulação dos resultados das eleições legislativas de julho de 1921.
Na manhã desse mesmo dia, às 10h00, o chefe do Governo, António Granjo, apresentou a sua demissão ao Presidente António José de Almeida, declarando «não ter forças para se defender com êxito».
A resposta do Presidente podemos encontrá-la no Arquivo dos Presidentes — MPR.
Neste documento, António José de Almeida afirma «cumprir honradamente o meu dever de português e republicano, declarando a V. Exa. que desde este momento considero finda a missão do seu governo».
Esperançoso de que a revolta termine de forma pacífica, partilha ainda com António Granjo o desejo de que, «[A] tantas infelicidades que tem caído sobre este Paiz (…) não se juntará a desgraça que esteve iminente, de ser derramado numa lucta fratricida o sangue dos seus generosos filhos».
Mas o vaticínio do Presidente não se cumpriu e os acontecimentos sucederam-se ao longo do dia, culminando numa noite fatídica, que ficou conhecida como «Noite Sangrenta».
Percorrendo as ruas da capital na chamada «camioneta-fantasma», os insurretos assassinaram o chefe do Governo, António Granjo, bem como Machado Santos, Carlos da Maia, ambos protagonistas do 5 de Outubro, Freitas da Silva, chefe de Gabinete do ministro da Marinha, Botelho Moniz, antigo ministro de Sidónio Pais, e o seu motorista, Jorge Gentil. Ficou ferido Francisco da Cunha Leal, em cuja casa António Granjo procurou refúgio ainda durante a tarde desse dia.
O acontecimento marcou António José de Almeida que pensou demitir-se, voltando atrás na sua decisão devido à manifestação de apoio que recebeu das autarquias, defronte da sua casa, a 30 de outubro de 1921.