Destaques Arquivo MPR #12
Uma carta dos atribulados dias que marcaram o fim da I República.
A 28 de maio de 1926, chegava ao fim a I República.
O golpe militar que derrubou o regime partiu de Braga, sob o comando de Manuel Gomes da Costa. Em Lisboa, o líder do movimento era o oficial da Marinha, José Mendes Cabeçadas Júnior.
Protagonista do 5 de Outubro, Mendes Cabeçadas enviou, ainda no dia 28, uma carta ao Presidente Bernardino Machado, apresentando-se como chefe da revolta e propondo a nomeação de um governo extrapartidário.
Partiu, depois, para Santarém, onde se iria juntar às tropas locais sublevadas. Porém, aí chegado, acabou por ser preso pelas forças fiéis ao governo de António Maria da Silva, tal como os oficiais que o acompanhavam.
De Santarém, Mendes Cabeçadas escreve uma curta, mas curiosa, carta à sua mulher, Maria das Dores Vieira Cabeçadas, hoje à guarda do Arquivo dos Presidentes – MPR. Diz ele:
«Saúde e boa disposição não tem faltado. Estou em Santarém e agora engavetaram-me. Espero que não seja por muito tempo».
Efetivamente, a 30 de maio, os oficiais presos são libertados. Mas as «boas-novas» para Mendes Cabeçadas não ficariam por aqui: ainda nesse dia, o governo de António Maria da Silva demite-se e Bernardino Machado nomeia Cabeçadas para presidente do Ministério, ministro da Marinha e interino das restantes pastas ministeriais.
No dia seguinte, a 31 de maio, foi a vez do próprio Presidente da República se demitir, transmitindo os seus poderes a Mendes Cabeçadas, que, num contexto muito singular, assumiu as funções de chefe do Estado.
Contudo, o poder rapidamente mudaria de mãos, fruto do confronto entre as diferentes fações do movimento: 17 tumultuosos dias depois, Mendes Cabeçadas, na sequência de um ultimato lançado por Gomes da Costa, assina a sua própria exoneração para evitar, diria mais tarde, uma guerra civil.