Destaques Arquivo MPR #17
A curiosa recordação da Grande Guerra.
Quinta-feira, 6 de setembro de 1917: no Diário do Governo era publicada a Lei n.º 813, que autorizava o Chefe do Estado a ausentar-se do país para visitar o Corpo Expedicionário Português, estacionado em França.
Eleito em 1915, Bernardino Machado seria o protagonista desta visita oficial ao estrangeiro, a primeira na história da República.
Entre os dias 8 a 25 de outubro, em plena I Guerra Mundial, o Presidente visitou cidades em ruínas e hospitais, reuniu-se com oficiais franceses e ingleses, aprendeu a usar uma máscara antigás, cruzou-se com soldados portugueses, condecorou com a Ordem da Torre e Espada a cidade de Verdun, testemunhou um raide de dirigíveis em Londres e agraciou com a Cruz de Guerra 45 oficiais e praças numa cerimónia em Roquetoire.
A acompanhá-lo, encontrava-se Ângelo Vaz, seu secretário particular e genro, que nos deixou um relato pormenorizado do périplo no livro Viagem Presidencial — 1917.
São suas as seguintes palavras, sobre a breve passagem de Bernardino Machado pela cidade destruída de Arras e pela sua catedral, a 12 de outubro:
«Esta [a Catedral] tinha sofrido, no momento em que lá estivemos, muito mais com o bombardeamento que a Catedral de Reims. A abóbada quase que havia desaparecido. Existiam apenas quatro paredes, estando o resto reduzido a escombros. Muitos de nós apanharam e trouxeram restos de mármore ou de vitrais, como recordação daquela visita memorável. O Senhor Presidente exprime a comoção com que contempla o esqueleto da formosa Catedral de Arras. É que os monumentos destruídos têm o aspeto confrangedor de órgãos despedaçados da vida histórica dos povos».
Tal como alguns elementos da sua comitiva, também Bernardino Machado traria uma recordação deste momento para memória futura: não um fragmento da catedral em ruínas, mas uma curiosa folha de um plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus) recolhida junto a ela.