Destaques Arquivo MPR #20
Em Londres.
A 3 de abril de 1911, Manuel Teixeira Gomes partia no comboio Sud-Express com destino a Londres.
Aos 50 anos, a caminho dos 51, aceitara ser o primeiro representante da República no Reino Unido, tendo sido nomeado pelo Governo Provisório «Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário».
A sua principal missão: o reconhecimento internacional do novo regime saído do 5 de Outubro de 1910, tarefa dificultada pela presença da oposição monárquica refugiada em Londres.
Manuel Teixeira Gomes já aí tinha estado, em junho de 1897, quando se celebrava o Jubileu de Diamante da Rainha Vitória. As memórias dessa viagem ficaram registadas no artigo da revista Arte & Vida, de abril de 1905, «Londres Maravilhosa, phantasias sobre um thema infinito».
«Muitas pessoas ha capazes de levar horas esquecidas na contemplação d’um gato que brinca; as feras humanas, grandes e pequenas, offerecem-me motivo de muito mais interesse. Nunca Londres me interessara tanto!», escreveria, referindo-se à fascinante multidão que se deslocara à capital britânica para a ocasião.
Foi ao neto da Rainha Vitória, Jorge V, que apresentou as suas credenciais, a 11 de outubro de 1911. Na falta de um uniforme diplomático para a República de Portugal, o «Master of Ceremonies» do Rei, Arthur Walsh, autorizou Teixeira Gomes a envergar um «evening dress with trousers» (o Arquivo dos Presidentes – MPR disponibiliza todas as missivas trocadas entre os dois correspondentes aqui).
Apesar das primeiras contrariedades, o futuro Presidente da República conseguiu que lhe fossem abertas as portas da sociedade britânica, granjeando simpatia junto da imprensa e, inclusive, da família real.
A República Nova de Sidónio Pais viria a pôr fim à aventura londrina: foi demitido das funções de ministro de Portugal em janeiro de 1918.
Voltaria à Legação de Londres em 1919, cargo do qual se despediria por uma última vez em 1923, para tomar posse como Presidente da República.
«Supunham que depois do grande Soveral [marquês de Soveral, ministro plenipotenciário em Londres ao tempo da revolução republicana] não havia ninguém que fosse capaz de fazer caminho em Londres. Enganaram-se. Fiz caminho, fiz até um grande caminho — posso afirmá-lo agora sem falsas modéstias que a idade não me permite.» (Manuel Teixeira Gomes, em «O Exilado de Bougie», de Norberto Araújo).