Destaques Arquivo MPR #22

A 30 de janeiro de 1917, Manuel Gomes da Costa, recém graduado no posto de general, partia para França, ao comando da 1.ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP): é dele o bilhete de identidade emitido pelo Ministério da Guerra que o Arquivo dos Presidentes – MPR guarda.

Desde julho de 1914 que a guerra grassava na Europa, mas só decorridos mais de dois anos é que Portugal se juntava aos Aliados na frente de batalha.

O alto-comando britânico tinha destinado para o CEP um setor de trincheiras na Flandres francesa, entre os vales dos rios Aire e Lys: é nessa região que Gomes da Costa monta o seu quartel-general, no Palacete de la Giclais, em Lestrem.

Eram frequentes as suas visitas às unidades da frente, ficando para memória futura a descrição que nos fez das famigeradas trincheiras, onde, no inverno, «A lama, (…), forte como grude, agarra-nos os pés a cada passo, procurando prender-nos para sempre àquele solo de França» («A Batalha do Lys», p. 85)

Foi já ao comando da 2.ª Divisão do CEP que assistiu, a 9 de abril de 1918, à Batalha de La Lys.

Às 4h15 da madrugada, um grandioso ataque alemão de artilharia e gás caiu sobre a Frente Ocidental, em particular sobre o setor português, procurando romper as linhas aliadas.

Resultado: mais de 400 portugueses mortos e cerca de 7000 feitos prisioneiros de guerra pelas forças inimigas. Era o colapso do CEP, que, ainda assim, com os seus focos de resistência e árduos combates, permitiu travar o avanço alemão.

Em 1920, Gomes da Costa afirmaria que «A 2.ª Divisão portuguesa, (…), demonstrou à evidência que se bateu com bravura e com honra, e que se mais e melhor não fez, foi porque era humanamente impossível», responsabilizando a política partidária pelo desaire, «sempre nefasta e sempre oposta ao verdadeiro interesse da única política admissível no Exército – o estar sempre pronto para se bater» («A Batalha do Lys», p. 176).

Apesar do desfecho da batalha, o prestígio do general sairia incólume.

Já a crítica ao Governo e, em particular ao Partido Democrático, agudizava-se e a sua intervenção na vida política nacional intensificou-se ao longo da década de 1920.

Não foi, por isso, estranho vê-lo entrar triunfante na cidade de Lisboa, a 6 de junho de 1926, empunhando a sua espada, na sequência do golpe militar de 28 de maio, que pôs fim à I República e que o levaria à chefia do Estado durante escassos 22 dias.

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Bilhete de identidade emitido pelo Ministério da Guerra, em nome de Manuel Gomes da Costa (frente). Bilhete de identidade emitido pelo Ministério da Guerra, em nome de Manuel Gomes da Costa (verso). Bilhete-postal reproduzindo uma fotografia de Manuel Gomes da Costa, comandante da 1.ª Divisão do CEP, numa visita à frente de batalha. À direita, o general Gomes da Costa, comandante da 1.ª Divisão do CEP, acompanhado do oficial general Haking, comandante do XI Corpo do Exército britânico, e do general Tamagnini, comandante do CEP. Manuel Gomes da Costa cumprimenta Bernardino Machado, na chegada do Presidente ao Palacete de la Giclais, em Lestrem, quartel-general da 1.ª Divisão do CEP. Manuel Gomes da Costa assiste à condecoração de um militar, durante a cerimónia que teve lugar em Roquetoire, aquando da visita do Presidente Bernardino Machado ao CEP, em França. O general Manuel Gomes da Costa encabeçando as forças militares que desfilaram em Lisboa, na sequência do movimento militar nacionalista do 28 de Maio de 1926, que pôs fim à Primeira República.