Destaques Arquivo MPR #33
Em que dia nasceu Camões?
O dia 5 de fevereiro de 1924 foi feriado nacional. Celebraram-se os 400 anos do nascimento de Camões e o principal mentor desta festa foi Teófilo Braga. Chegou à conclusão de que Luís de Camões – o grande poeta, «o maior título de orgulho e glória para Portugal» – tinha nascido entre 4 e 5 de fevereiro de 1524, em Lisboa.
Numa entrevista ao jornal O Século, em janeiro de 1924, Teófilo Braga explicou as suas razões, que combinavam «prognósticos de astrólogos» do século XVI com referências colhidas no Canto X d’Os Lusíadas:
«Quando vim da materna sepultura
De novo ao Mundo, logo me fizeram
Estrelas infelizes obrigado;»
Se no primeiro verso via uma alusão ao nascimento de Camões, no terceiro relacionava as «Estrelas infelizes» com as desgraças naturais previstas por astrólogos quinhentistas para os dias 4 e 5 de fevereiro de 1524, em que ocorreria a «junção» dos signos de Aquário e Peixes.
Teófilo Braga tinha sido o protagonista das comemorações do tricentenário da morte de Camões, no dia 10 de junho de 1880. Fomentou e defendeu o culto nacional do poeta, tornando-o uma bandeira do movimento republicano nunca mais abandonada.
A tese do dia 5 de fevereiro não foi considerada muito sólida. Mas saber qual foi o dia do nascimento continua a suscitar investigações. Já em 2024, na Universidade de Coimbra, foi apresentada uma conferência sobre o assunto, sustentando-se o dia 23 de janeiro de 1524 como o do nascimento do poeta nacional.
A República optou pela data da morte, mais segura, para celebrar o poeta – o 10 de junho. Desde 1911, foi feriado municipal em Lisboa. Em maio de 1925, passou a ser o dia da Festa de Portugal, associado à «consagração nacional de Luís de Camões». Mas só em 1929, o dia 10 de junho foi confirmado no calendário dos feriados nacionais.
Neste ano de 2024, passa o centenário da morte de Teófilo Braga, nascido em Ponta Delgada, em 1843, e falecido em Lisboa, em 1924. O Museu da Presidência da República prepara uma exposição evocativa, em conjunto com a Câmara Municipal da capital açoriana e a Biblioteca Pública e Arquivo Regional. Camões, no pensamento e na obra de Teófilo, terá menção obrigatória na exposição.
* Os documentos originais integram o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.