Destaques Arquivo MPR #36

«... a lei que tomo a liberdade de enviar...»

A 20 de julho de 1915, Luís Barreto da Cruz, 1.º oficial ao serviço da Secretaria-Geral da Presidência da República, enviava uma lei «de urgente publicação» a Teófilo Braga para que ele a promulgasse.

Semanas antes, a 29 de maio, na sequência da renúncia de Manuel de Arriaga, Teófilo Braga era eleito Presidente da República pelo Congresso, aos 72 anos. Assim determinava a Constituição de 1911: que no caso de o Presidente deixar a Presidência antes de terminar o seu mandato, o Congresso elegia um Chefe do Estado para cumprir o tempo restante do seu antecessor.

Foi um mandato de poucos meses, decorrido quase na sombra, e chefiado a partir de sua casa, na Travessa de Santa Gertrudes, em Lisboa, onde lhe chegava a papelada para despacho.

Na mensagem de tomada de posse que dirigiu ao Congresso, apontou o dedo a Manuel de Arriaga, acusando-o de intervir de forma ilegítima sobre o regime parlamentar.

Para Teófilo Braga, o Presidente da República deveria cingir-se a assistir «com interesse e amor, (…), ao normal funcionamento do regime democrático parlamentar», garantindo a manutenção da «harmonia dos poderes do Estado». O Presidente era, enfim, um «mandatário do parlamento», esse sim o órgão onde residia, essencialmente, a soberania da nação.

Concluía a sua mensagem manifestando o desejo de que quando chegasse ao fim do seu mandato, «ao regressar dignamente ao lar», se pudesse dizer: «"Cumpriu o que prometeu; guiou-se pelo bom senso e pelo desinteresse"».

A 5 de outubro desse mesmo ano, Teófilo Braga passava o testemunho a Bernardino Machado.

 

*Os documentos originais do Arquivo de Teófilo Braga integram o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. As imagens digitais podem ser consultadas no Arquivo dos Presidentes do MPR.

Multimédia

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Carta de Luís Barreto, da Secretaria-Geral da Presidência da República, para Teófilo Braga, solicitando a promulgação de uma lei. Reportagem da «Ilustração Portuguesa» sobre a eleição de Teófilo Braga a 29 de maio de 1915. O presidente do Governo Provisório Teófilo Braga no jardim de sua casa, situada na travessa de Santa Gertrudes, à Estrela, atual rua Dr. Teófilo Braga. Retrato oficial do Presidente da República, Teófilo Braga. Pintado por Columbano, é um retrato psicológico de um homem profundamente só. Na mão esquerda segura uma obra sua: «Cancioneiro e Romanceiro Cancioneiro colligidos da Tradição Oral por Theophilo Braga na era de 1867».