Destaques Arquivo MPR #37

Para a história do 10 de Junho.

Este mês, destacamos um documento que nos remete para a história das celebrações do 10 de Junho. Trata-se de um artigo publicado no jornal «O Mundo» precisamente no dia 10 de junho de 1909, ou seja, no ano anterior à queda da Monarquia.

Nele, celebra-se «o príncipe dos poetas portugueses, Luís de Camões», mas também o homem a quem se atribui a ideia de transformar Camões num símbolo nacional: Teófilo Braga.

O primeiro momento desse reconhecimento terá sido – lembra o autor do artigo – a inauguração da estátua de Luís de Camões no Chiado, em Lisboa, no ano 1867, custeada por subscrição pública. «Era a primeira prestação da grande divida paga a Camões “pela pátria sua amada”». Treze anos depois, as grandes comemorações do tricentenário da morte de Camões, foram a apoteose. Foi criada uma comissão para organizar os festejos, embora o autor do artigo atribua o protagonismo a Teófilo Braga, «mas ele meteu-se na sombra, ocultou-se modestamente».

Efetivamente, o Tricentenário da morte de Camões, no dia 10 de junho de 1880, foi um grandioso momento de identificação coletiva com Luís Vaz de Camões. Por todo o país, realizaram-se «festas cívicas» com particular adesão dos republicanos. Estes criticavam ferozmente o que designavam por decadência do regime monárquico, por oposição à época gloriosa cantada n’ «Os Lusíadas». Para os republicanos, esse período de ouro poderia voltar se o regime mudasse, com a República. «E quando soar a hora do advento da República, a estátua de Camões será juncada de flores e Theophilo Braga receberá a palma da victoria ofertada pelas multidões reconhecidas.»

Embora possam parecer proféticas, estas palavras refletiam o pulsar de uma parte significativa da sociedade portuguesa de 1909: a revolução pairava no ar. No dia 5 de outubro de 1910, a República foi implantada e Teófilo Braga nomeado chefe do Governo Provisório. Quanto ao 10 de Junho, nunca mais deixaria de ser assinalado, embora transfigurado pelo regime em vigor. De Festa de Portugal, durante a I República, a Dia de Camões e da Raça, durante o Estado Novo, o 10 de Junho é o hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas refletindo a realidade plural do Portugal democrático saído da revolução do 25 de Abril de 1974.

*Os documentos originais do Arquivo de Teófilo Braga integram o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. As imagens digitais podem ser consultadas no Arquivo dos Presidentes do MPR.

ESA

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Artigo no jornal «O Mundo» sobre o significado do dia 10 de junho. Inauguração do monumento a Luís de Camões, no Chiado (Lisboa), um primeiro momento de homenagem nacional ao poeta. Imagem disponível em https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/x-arqweb/Result.aspx?id=217387&type=PCD A comissão que organizou os festejos do Tricentenário da morte de Camões, a 10 de junho de 1880, de que fazia parte Teófilo Braga. Estes festejos foram um marco na difusão dos ideais republicanos.
Disponível em: https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/obras/ocidente/1880/N63/N63_master/N63.pdf Imagem publicada no Almanaque Lello, em 1929, com os feriados nacionais. Nesse ano, o dia 10 de junho passou formalmente a feriado nacional.
Imagem retirada de Luís Oliveira Andrade e Luís Reis Torgal, «Feriados em Portugal. Tempos de memória e de sociabilidade», Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012. Notícia sobre o primeiro 10 de Junho após o 25 de Abril de 1974, realizado em 1977 na cidade da Guarda, com a designação: Dia de Camões e das Comunidades.
Imagem disponível em http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_3744 (2024-6-6) Cartaz da exposição «Teófilo Braga (1843-1924) – No centenário da sua morte». Teófilo Braga foi um grande estudioso da vida e obra de Luís Vaz de Camões e um dos principais nomes das grandes comemorações do Tricentenário da morte de Camões, realizadas no dia 10 de Junho de 1880.