Últimas aquisições MPR #10
A República, os seus símbolos e as suas figuras maiores tomaram a forma de muitos objetos do dia-a-dia. Neste «bilhete postal», adquirido pelo Museu, vemos o retrato de busto — figura a meio-corpo — de António José de Almeida, aplicado a um pequeno móvel que lembra um espelho-toucador. Quando se usava escrever à família e aos amigos, a relatar uma viagem, a saber da saúde, a dizer quem nasceu ou quem morreu, os postais eram muito úteis e chegavam a todo o país.
Este modelo de espelho é hoje pouco comum, mas nos primeiros anos do século XX encontrava-se em muitas casas, normalmente nos quartos, como vemos na publicidade à «Casa completa do Grandella», os grandes armazéns de Lisboa que vendiam «tudo, absolutamente tudo». O espelho tanto aparece no «quarto de cama», sobre uma mesa, o chamado toucador, como no «quarto de creada», sobre uma cómoda.
Na origem, o toucador — de que fazia parte uma mesa, um espelho, algumas gavetas pequenas e um banco ou cadeira — servia para as mulheres pentearem os longos cabelos e colocar a «touca», antes de deitar, pois não era costume usá-lo curto.
Além do motivo principal, o «Dr. Antonio José d’Almeida», a República retrata-se no barrete frígio, no facho a arder e no fasces lictoriae (um feixe de varas, ligado a um martelo), símbolo etrusco da autoridade e união, que a Revolução Francesa retomou. A propaganda é reforçada por duas bandeiras nacionais, com a esfera armilar e o escudo, ao centro, e um festão de folhas verdes, com flores e frutos vermelhos.
Um pormenor curioso: o festão está pendurado nas peças laterais que prendem o eixo horizontal do espelho; com este, os espelhos-toucadores usados em casa podiam bascular, dando outras perspetivas a quem se penteava. No entanto, há um erro gráfico: num lado, o festão passa pela frente do espelho, no outro, passa por trás — engano ou intenção de fazer sobressair os contornos da bandeira nacional?