Últimas aquisições MPR #17

Poderiam ser selos, mas, na verdade, é um novo postal — «bilhete postal», «carte postale» — que entra na coleção do Museu da Presidência da República. A imagem central retrata o primeiro Presidente eleito, Manuel de Arriaga, envolvido na nova Bandeira Nacional. No entanto, os selos — uma coleção de quinze — parecem ser o grande motivo deste postal republicano, impresso na casa «Gloria», do Porto.

Em fevereiro de 1911, foi aberto um concurso para a primeira edição de selos. Desde o 5 de outubro anterior, data da instauração do novo regime, circulavam exemplares da Monarquia com um carimbo sobreposto — a «sobrecarga», termo usado pelos especialistas —, com a palavra «Republica».

A revista Illustração Portugueza, que tinha milhares de leitores e chegava a todo o país, publicou um artigo desenvolvido no mês de abril:

«Agora, tambem em Portugal vae haver uma linda estampilha a primeira do governo da Republica.»

Constantino Sobral Fernandes (1878-1920) foi o artista vencedor do concurso, ainda que Artur de Mello tenha ficado igualmente em primeiro lugar, mas com um selo para os Açores. Outros artistas consagrados concorreram, como Simões de Almeida (sobrinho), que já tinha feito, em 1908, o busto da República — um exemplar em gesso figura na exposição permanente do Museu.

Os quinze selos do postal, com desenho de Constantino Fernandes e gravação de José Sérgio de Carvalho e Silva, apresentavam a nova moeda, o escudo, que se divida em cem partes iguais, os centavos. O selo mais barato custava 1/4 de centavo e o mais caro 1 escudo.

A figura feminina da jovem República foi o tema escolhido pelo artista, repetindo-se em todos os quinze selos, distinguidos pela cor e valor monetário. À jovem mulher, Constantino Fernandes acrescentou-lhe: na cabeça, o barrete frígio; no peito, o escudo de Portugal; na mão esquerda, um molho de trigo; na direita, uma foice. Estes dois últimos atributos, o trigo e a foice, fizeram com que esta coleção de selos ficasse conhecida com o nome de Ceres, a deusa romana protetora das colheitas, da agricultura, num sentido mais amplo, da fertilidade.

Não será demais lembrar que os postais impressos circulavam por Portugal e estrangeiro; as pessoas escreviam-se umas às outras. No verso, os postais levavam notícias, recomendações, saudades, como um outro postal da coleção do Museu, de «Agueda», uma portuguesa, que escreveu palavras afetuosas para o «Menino Eric Brown», regressado à Escócia. E na frente do postal, a afirmação do novo regime republicano, através das figuras, imagens, cores, composições, selos até.

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Bilhete-postal comemorativo da primeira edição de selos da República. Verso do bilhete-postal comemorativo da primeira edição de selos da República. Selo emitido no período da Monarquia, revalidado com a sobrecarga «Republica», após a Revolução de 5 de outubro de 1910. Autorretrato do pintor Constantino Sobral Fernandes. Nu masculino. Exercício de desenho do 4.º ano de Constantino Sobral Fernandes, da disciplina de Modelo Vivo, no final do ano letivo de 1894-1895, enquanto aluno da Escola de Belas-Artes de Lisboa, atual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Mereceu 18 valores. Terrina. Exercício de desenho do 4.º ano de Constantino Sobral Fernandes, da disciplina de Composição e Ornato, no final do ano letivo de 1894-1895, enquanto aluno da Escola de Belas-Artes de Lisboa, atual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Mereceu 18 valores. Livro editado após a morte de Constantino Sobral Fernandes, reunindo as suas obras artísticas mais importantes. Verso de bilhete-postal republicano, escrito de Portugal, por Águeda, para Eric Brown, a viver em Gourock, a cerca de 50 quilómetros de Glasgow, na Escócia. O selo apresenta a sobracarga «Republica» sobre a efígie do Rei D. Manuel II, deposto. O Presidente da República Manuel de Arriaga, saindo do Palácio de São Bento, após a cerimónia da sua tomada de posse.