Últimas aquisições MPR #18

Comprada para a coleção do MPR, esta almofada estava identificada como pano comemorativo da implantação da República.

Depois de aberta a moldura, muito mais recente, verificou-se que um dos lados foi cosido de modo claramente diferente, indiciando ser a abertura para o enchimento da almofada que, nesta época, poderia ser de crina, penas, algodão, sumaúma, materiais orgânicos — estes, sim, sustentáveis! — usados durante vários séculos para o efeito.

Objetivamente, a coleção do MPR ganhou uma almofada, no entanto, não será de excluir que esta resulte da aplicação de um pano ou até de um lenço maior, comemorativo do 1.º aniversário da instauração da República: «1910 – 1911».

O desenho estampado conserva as cores muito vivas. O vermelho está na Bandeira Nacional; na República-mulher, qual guerreira empunhando escudo e espada; em Amélia Santos, a mulher de joelhos e pistola apontada, a defender o novo regime. O verde reconhece-se nos ramos vitoriosos de palmeira; nas folhagens de carvalho ou oliveira, a fazerem moldura; nos dois quintos da Bandeira Nacional. O amarelo sobressai na esfera armilar, mas muito mais no feixe de luz que irradia da República-mulher.

Sob esta paleta de cores fortes, há o preto e branco dos acontecimentos e das figuras que a Revolução Republicana consagrou em 1910.

No topo da estampagem estão representados os cruzadores Adamastor e São Rafael (este, com uma chaminé). Ao primeiro coube dar sinal, com salvas de canhão — comandadas pelo jovem segundo-tenente José Mendes Cabeçadas Júnior —, de que era a hora de iniciar a Revolução: a 1 da madrugada do dia 4 de outubro.

No centro do desenho, surge o edifício da Câmara Municipal de Lisboa — os Paços do Concelho. Da sua varanda, foi proclamada a República, por volta das 9h da manhã do dia 5.

A rematar a composição festiva, reproduz-se o cenário da Rotunda, com as forças republicanas barricadas. Fotografias tiradas nestas horas de revolução circularam depois em jornais, revistas e em bilhetes-postais. A lojista Amélia Santos, em entrevista ao jornal A Capital, haveria de confessar que não sabia manejar uma arma, mas facilmente aprendeu.

Quatro retratos preenchem os cantos da almofada: Cândido dos Reis e Miguel Bombarda, heróis republicanos que morreram, em contextos diferentes, nas vésperas da queda da Monarquia; nos cantos superiores, Manuel de Arriaga e Teófilo Braga, as duas figuras da mais alta hierarquia do jovem Estado Republicano, âncoras do novo regime.

Multimédia

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Almofada comemorativa do 1.º aniversário da República. Almofada comemorativa do 1º aniversário da República - verso. Pormenor do verso da almofada, distinguindo-se a costura, menos perfeita, do lado que serviria para o enchimento. Bilhete-postal com imagem fotomecânica que regista a posição do contingente republicano na Rotunda da Avenida. Entre os revoltosos, a lojista de profissão, Amélia Santos. O Presidente da República Manuel de Arriaga e o seu filho e secretário, Roque Manuel de Arriaga, na varanda do Palácio de Belém. O segundo-tenente José Mendes Cabeçadas Júnior rodeado pelos marinheiros do Adamastor. Cabeçadas tomou o comando do navio e ordenou o disparo de tiros de canhão, à 1h00 da madrugada de 4 de outubro, sinal combinado entre republicanos para começar a revolta. Na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, membros do Governo Provisório - José Relvas, ao centro, e Eusébio Leão à sua direita - proclamam a República e a constituição do novo Governo. Homenagem aos mortos da revolução republicana, por ocasião do aniversário dos funerais de Cândido dos Reis e Miguel Bombarda, nos Paços do Concelho. À saída da sessão solene: Teófilo Braga, presidente do Governo Provisório, acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Bernardino Machado, à esquerda, e pelos ministros do Interior e da Justiça, António José de Almeida e Afonso Costa, à direita. Última página da publicação «Vultos Republicanos», com referência aos «mártires» da revolução republicana portuguesa, Cândido dos Reis e Miguel Bombarda.