Últimas aquisições MPR #20

A partir de 1916, com a entrada de Portugal na Grande Guerra, as reações de mobilização e propaganda contra o inimigo não tardaram. Além da constituição do CEP, outras formas surgiram, mais discretas, mas igualmente afirmativas da posição de Portugal, como a edição de postais.

Trocar correspondência entre familiares, amigos, correligionários, era muito comum; a ilustração da frente do postal chegava a todo o lado, sem precisar de muitas linhas escritas no verso. E neste campo, a Papelaria e Typographia de Paulo Guedes & Saraiva foi grande animadora do mercado. Em Lisboa, na rua do Ouro, n.ºs 78-80, anunciava «bilhetes postaes ilustrados» já impressos, mas também os aceitava «por encommenda».

A partir de uma aguarela do notável artista Roque Gameiro – hoje com dois museus a ele dedicados: o Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde, e a Casa Roque Gameiro, na Amadora –, a empresa Paulo Guedes editou um postal representando uma minhota patriótica, qual Maria da Fonte (também mulher do Minho), pronta para lutar ao lado dos aliados.

Empunhando o Estandarte Nacional e uma espada, esta mulher, possante e destemida, caminha numa direção que desconhecemos, podendo bem ser a frente de guerra, com a vitória no horizonte. Atrás dela, foi desenhado o Mosteiro da Batalha, com as Capelas Imperfeitas, e o Convento de Cristo, em Tomar, como se a história gloriosa de Portugal fosse o respaldo da bravura desta guerreira.

À vianesa, à moda de Viana [do Castelo], à moda do Minho ou à lavradeira são nomes consagrados para o traje desta mulher, mas também para outros, com cores, padrões e peças de vestuário diferentes deste. Aqui, ela usa lenço atado à cabeça, camisa com barra de folho e mangas arregaçadas, colete, saia, algibeira e tira – uma espécie de cinto que mais parece ter as cores das bandeiras dos países aliados.

O oiro completa o traje da mulher minhota e é ostensivo, como manda a tradição dos momentos festivos mais populares. Não falta a cruz de Cristo, ornamento popularizado na ourivesaria, mas também na arquitetura manuelina, lembrando as viagens marítimas dos portugueses pelo mundo fora.

No contexto da jovem República Portuguesa, a mulher, que tinha sido usada como personificação do novo regime, tantas vezes com o barrete frígio e empunhando a Bandeira Nacional e uma espada, agora veste à vianesa, mas continua protagonista com a mesma coragem, força e vontade de vencer.  

A aquisição deste postal reforçou a coleção do Museu da Presidência da República.

Multimédia

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Bilhete postal com minhota empunhando o Estandarte Nacional e uma espada, a partir de uma aguarela de Roque Gameiro. Verso do bilhete postal com minhota empunhando o Estandarte Nacional e uma espada, a partir de uma aguarela de Roque Gameiro. Autorretrato de Roque Gameiro. Anúncio publicitário da Papelaria e Tipografia Paulo Guedes & Saraiva, situada na rua do Ouro, em Lisboa. https://restosdecoleccao.blogspot.com/2021/07/papelaria-e-tipografia-paulo-guedes.html Fachada do Convento de Cristo, em Tomar, representada no bilhete postal.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Convento_de_Cristo#/media/Ficheiro:Tomar-Convento_de_Cristo-Portal_da_igreja-20140914.jpg As Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha, representadas no bilhete postal. https://dicasdelisboa.com.br/portugal/mosteiro-da-batalha-em-portugal/