Últimas aquisições MPR#29
Em outubro de 1915, a Direção-Geral da Justiça e dos Cultos publicava a portaria n.º 497 que determinava a presença, em lugar apropriado, de um busto da República nas salas de audiências e sessões de todos os tribunais do país.
Entre as razões desta decisão, segundo o mesmo texto legal, o busto era o símbolo «mais próprio para dignificar a forma de governo republicano», consubstanciando «o poder constituído pela vontade soberana da nação».
Em Portugal, os bustos femininos, representando a República, proliferaram com a implantação do novo regime a 5 de outubro de 1910.
Sem polémica (ao contrário da bandeira nacional, que motivou acesa querela), invadiram o quotidiano, os edifícios públicos, as casas particulares e as cerimónias oficiais.
A inspiração para estas figurações era só uma: «Marianne», a Mulher/República que emergiu da Revolução Francesa em 1792, e que foi adotada, com toda a sua simbologia, pelo novo Portugal republicano.
É essa mesma influência que podemos encontrar no busto que o MPR adquiriu recentemente.
Em gesso, não sabemos, até à data, o seu autor, embora sejam conhecidas versões em barro policromado.
Os atributos estão lá, a começar pelo barrete frígio, usado, em tempos, pelos escravos libertos na antiga Roma. Simboliza, por isso, a Liberdade.
Os seios entrevistos no decote acentuado, traço que Eugène Delacroix consagrou no quadro de 1831 «A Liberdade guiando o povo» (pese embora o pintor francês os tenha retratado descobertos), acentuam a feminilidade da imagem e reforçam a alegoria da República/Mãe.
Como que transportados no regaço, a bandeira nacional, onde se avulta a esfera armilar e o escudo, e um ramo de loureiro, símbolo da imortalidade e da glória.