Últimas aquisições MPR#37

O acervo do Museu da Presidência da República foi recentemente enriquecido com a doação de um objeto que pertenceu a Teófilo Braga. O generoso ato coincidiu com a evocação do centenário da morte do antigo Presidente da República – que assinalamos ao longo de 2024 –, o que muito nos contentou.

Trata-se da borla (barrete) do traje doutoral de Teófilo Braga, ou seja, uma das insígnias (emblemas ou adornos) que recebeu por ocasião do seu doutoramento, na Universidade de Coimbra, em 1868. A outra insígnia – o capelo (capa de ombros) – usada na mesma cerimónia, encontra-se na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. O hábito talar (capa e batina preta) de Teófilo Braga não terá chegado aos nossos dias.

O vermelho – em rigor, carmesim – identifica o curso de Direito, uma tradição que, tal como a regulamentação das restantes características das insígnias doutorais da Universidade de Coimbra, remonta à Idade Média. Ainda hoje se mantêm as denominadas cores científicas: uma cor para cada uma das áreas científicas, prática entretanto generalizada às restantes universidades portuguesas. A borla da Universidade de Coimbra nem sempre foi redonda, julgando-se que terá sido adotada a partir da Reforma Pombalina de 1772. Simboliza a sabedoria, e o capelo, a ciência. Também os materiais utilizados na sua produção foram sendo modificados, mantendo-se o delicado trabalho em passamanaria com fios de seda ou prata retorcidos. Em Coimbra, a cerimónia de imposição das insígnias doutorais continua a realizar-se na Sala dos Capelos.

Esta peça foi doada ao Museu pela família de Flórido Teles de Menezes Vasconcelos (1840-1908), grande amigo e colega de Teófilo Braga dos tempos da Universidade de Coimbra. Em data incerta, e certamente como sinal de reconhecimento e amizade, Teófilo ofereceu-lhe a borla do seu traje doutoral. No arquivo de Teófilo Braga, encontram-se várias cartas de Flórido Vasconcelos que atestam esta amizade, reforçada pelo facto de ter sido padrinho dos filhos de Teófilo Braga e Maria do Carmo Xavier Braga.

Até setembro, pode ver esta bela peça na exposição que assinala o centenário da morte de Teófilo Braga, em Ponta Delgada.

ESA

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Borla do traje doutoral de Teófilo Braga. A borla simboliza a sabedoria. A cor carmesim corresponde ao Curso de Direito. Na parte superior estão gravadas, a toda a volta, as iniciais D.J.T.F.B. (Dr. Joaquim Teófilo Fernandes Braga). 1868. Capelo do traje doutoral de Teófilo Braga. Juntamente com a borla, fazia parte das insígnias doutorais recebidas em 1868. Simboliza a Ciência e a cor carmesim corresponde ao curso de Direito. Encontra-se na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Carta de Flórido Teles de Menezes Vasconcelos para Teófilo Braga, lamentando a morte do seu filho, e afilhado, Teófilo. Nalgumas cartas, Flórido trata Teófilo Braga e sua mulher por «compadres». Esta peça foi recentemente doada ao Museu da Presidência da República pela família de Flórido Teles de Menezes Vasconcelos. Até setembro de 2024, está exposta no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada ao lado da tese de doutoramento de Teófilo Braga («Historia do Direito Portuguez. Os Foraes»). Exposição temporária «Teófilo Braga (1843-1924) – No centenário da sua morte», patente no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada. A borla está à esquerda da imagem. Retrato de Teófilo Braga impresso em postal ilustrado, no período em que foi lente — nome antigo para designar um professor universitário — da cadeira de Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras de Lisboa, antecessor da Faculdade de Letras, criada em 1911.