No espólio do Presidente António José de Almeida, encontramos um importante conjunto de 270 estereoscopias oferecidas ao Chefe do Estado Português, no âmbito da sua visita ao Brasil para participar nas comemorações do Centenário da Independência daquele país, em 1922.
São representações — impressas em placa de vidro — numeradas, legendadas e assinadas pelo fotógrafo amador G. A. Santos. Na sua maioria, são vistas do Rio de Janeiro; paisagens interiores do Brasil; da chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro e comemorações associadas; e da visita do Reis da Bélgica. Da estadia do Presidente português existem apenas 5 estereoscopias.
Guilherme de António Santos (Rio de Janeiro, 1871-1966) foi um importante colecionador e fotógrafo amador que produziu mais de 20 mil vistas estereoscópicas entre 1906 e 1957. Tendo adquirido em França, em 1905, um Veroscope — sistema de integração de câmara e visor que permite ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, mas tiradas de ângulos ligeiramente diferentes —, as suas visões do mundo são caracterizadas pela colocação de um elemento em primeiro plano para destacar o efeito de profundidade, e o uso da ordem cronológica e legendas no espaço entre as duas fotografias.
A estereoscopia pode ser definida como um par de imagens de um mesmo cenário que, vistas através de um estereoscópio, produzem uma ilusão de tridimensionalidade. As estereoscopias podem ser geradas a partir de imagens de desenhos, gravuras ou fotografias. A fotografia com relevo como começou por ser designada, pretendia, tal como a fotografia, capturar, dar a conhecer e aproximar o mundo.
Com origem no século XIX (Charles Wheatstone, 1802-1875, e David Brewster, 1781-1868), a estereoscopia disseminou-se a partir da Europa um pouco por todo o mundo, tendo para isso contribuído as várias exposições internacionais que iam sendo registadas em imagens estereoscópicas.
Fator de distinção social, a estereoscopia era um «produto» para clientes com um gosto sofisticado, culto e sensível às artes, que desta forma poderiam viajar pelo mundo, sendo prática recorrente, entre uma certa elite social e cultural, presentear amigos e convidados com estas representações.
Em Portugal, a estereoscopia foi praticada pelos mais prestigiados fotógrafos: Wenceslau Cifka, Joseph James Forrester, Alfred Fillon, Emílio Biel, Augusto Bobone, Carlos Relvas, entre outros, não parecendo ter havido grande desfasamento temporal entre o surgimento e a prática da fotografia monoscópica e estereoscópica.