Na coleção do Museu da Presidência da República encontramos o presente de Estado Guerreiro, oferecido pelo Presidente do Brasil Ernesto Geisel ao Presidente Ramalho Eanes, por ocasião da visita do Chefe do Estado português àquele país, entre 22 e 27 de maio de 1987.

Trata-se de uma escultura em bronze, assinada pelo artista brasileiro Bruno Giorgi. A obra não se encontra datada, mas podemos atribuí-la, com segurança, à década de 50 do século XX, período em que o artista produziu uma série de obras com o mesmo título.

Bruno Giorgi nasceu em São Paulo em 1905. Mudou-se com a família para Itália em 1913. Aí inicia os seus estudos em desenho e escultura, na década seguinte. Dotado de uma forte consciência social e política, integra vários movimentos de luta antifascista, motivo pelo qual é preso, em 1931, e extraditado para o Brasil, no ano de 1935. Posteriormente, o seu interesse pela escultura leva-o, entre 1937 e 1939, a frequentar as academias de La Grand Chaumière e Ranson, em Paris, onde estuda com o escultor e pintor francês Aristide Maillol (1861-1944).

De regresso ao Brasil, em 1939, integra o movimento modernista brasileiro «liderado», entre outros, por Mário de Andrade (1893-1945) ­— poeta, escritor, historiador —, Lasar Segall (1889-1957) — pintor, escultor, gravurista —, Sérgio Millet (1898-1966) — escritor, pintor, poeta — e Oswald de Andrade (1890-1954) — escritor, ensaísta, dramaturgo.

A influência do mestre Aristide Maillol e o fascínio pela figura humana estão presentes na linguagem de Bruno Giorgi, revelando, a partir dos anos 1940, um crescente interesse pela temática dos tipos brasileiros, nomeadamente o nativo, que conduz a interessantes e arrojadas «fusões» do clássico/arcaico com a estética modernista vigente.

Guerreiro é uma escultura marcada por uma dinâmica abstrata que se materializa, no essencial, na estilização e restrição das linhas — silhueta reduzida a contornos essenciais; no movimento que é dado pelo ritmo das formas — troncos e membros esguios e alongados que se transformam em massas (jogos de espaços e formas: cheios e vazios) — e pelas linhas curvas e formas geométricas que sublinham a harmonia e o equilíbrio da obra.

Metaforicamente, Guerreiro remete-nos para a história da construção do Brasil, enquanto identidade e nação.  

Como grande admirador da sua obra, o arquiteto Óscar Niemeyer convidou Bruno Giorgi para produzir, em Brasília, três imponentes obras públicas: Os Guerreiros, Monumento à Cultura e Meteoro.

Multimédia

Percorra a galeria carregando nas imagens para ampliá-las e ler as respetivas legendas.

«Guerreiro», escultura em bronze oferecida a António Ramalho Eanes, por ocasião da visita do Presidente ao Brasil, em maio de 1987. «Os Guerreiros» ou «Os Candangos», escultura em bronze, da autoria de Bruno Giorgi (1959). «Meteoro», escultura em mármore de Carrara, da autoria de Bruno Giorgi (1967). «Monumento à Cultura», em bronze, da autoria de Bruno Giorgi (1965).