Durante a cerimónia de entrega das credenciais dos novos embaixadores em Portugal, que decorre habitualmente no Palácio de Belém, surge-nos um protagonista inusitado: um tapete de Beiriz.
A cerimónia, que começa no exterior, com pompa militar, decorre na convenientemente chamada Sala dos Embaixadores.
O Presidente da República tem lugar marcado sobre uma flor de uma das extremidades do tapete. Atrás de si, aguarda o ministro dos Negócios Estrangeiros (ou um dos seus secretários de Estado) e o secretário-geral do mesmo Ministério, secundados por elementos da Casa Civil e Militar do Presidente e pela secretária-geral da Presidência da República.
À entrada da Sala, a chefe do Protocolo do Estado e o/a embaixador/a param junto à porta, antes do tapete, e fazem uma vénia ao Chefe do Estado. Seguem, depois, tapete adentro, entregando o/a embaixador/a, em envelope selado, as cartas credenciais e a carta de chamada do/a seu/sua antecessor/a ao Presidente da República.
Uma breve audiência no Gabinete Oficial do Presidente põe fim à cerimónia.
Mas que tapete é este à volta do qual decorre esta «dança» de movimentos?
De seu nome «Brasil», nele podemos ver representações da fauna, como duas grandes aves exóticas, e da flora tropical, ladeadas por barras com motivos vegetalistas.
O tapete original datava de 1922 e terá sido oferecido pela Embaixada do Brasil a António José de Almeida, por ocasião da visita do Presidente português àquele país, para participar nas comemorações do centenário da sua independência.
Produzido pela Fábrica Artesanal de Tapetes de Beiriz, sediada na Póvoa de Varzim, é provável que o tapete não tenha chegado a «pisar» solo brasileiro, tendo sido oferecido ainda em Portugal.
Por volta do ano 2000, e evidenciando sinais de desgaste pelo seu uso constante, foi encomendada uma cópia do original, que permaneceu na Sala dos Embaixadores até 2019.
Nesse ano, para assinalar o centenário da Fábrica Artesanal de Tapetes de Beiriz (1919-2019), a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim ofereceu uma segunda réplica do tapete de 1922 à Presidência da República.
Na versão atual do tapete, que mede uns impressionantes 7 metros de comprimento e 4,55 metros de largura, trabalharam sete tapeteiras, durante seis semanas, usando 14 cores de lã.
Este tapete traz, no entanto, uma novidade em relação aos anteriores: cada uma das artesãs introduziu uma troca de linhas propositada, pequenas «imperfeições» a que tecnicamente se chamam «gatos», por forma a deixar registada a sua assinatura neste trabalho extraordinário.
RC