António José de Almeida e Maria Joana Queiroga casaram-se no dia 14 de dezembro de 1910. Não sabemos ao certo quando se conheceram. Provavelmente, terá sido por volta de 1906, a julgar pela correspondência entre ambos.
De acordo com Maria Joana, numa entrevista concedida à revista «Eva» em 1955, António José de Almeida fez depender a data do casamento da iminente mudança de regime, por recear que o seu envolvimento na política a deixasse viúva. Casaram-se dois meses e meio após a revolução que implantou a República, quando o noivo desempenhava o cargo de ministro do Interior do Governo Provisório. Ele tinha 44 anos, ela 25.
No dia do casamento, assinaram um contrato antenupcial, prática relativamente comum em famílias com posses, onde ficavam elencados os bens de cada um à data do matrimónio, separando-os, assim, dos bens que viessem a ser adquiridos (atual designação, regime de comunhão de adquiridos). Não era, porém, habitual, ter esta apresentação mais cuidada (guardado numa pasta em veludo e seda, com gravação a ouro) que, de imediato, nos revela estarmos perante nubentes ilustres que não passaram despercebidos ao ajudante do notário, autor da oferta.
Foi assinado no Hotel Central, no Cais do Sodré, então um dos mais conceituados hotéis da capital. No mesmo dia, às 14h00, concretizou-se o casamento civil, nos Paços do Concelho. As testemunhas foram o irmão do noivo, Francisco António de Almeida, e o amigo Manuel de Arriaga que, à data, era procurador-geral da República. Estiveram também presentes a avó e o tio maternos da noiva, e mais cinco pessoas próximas do noivo, entre as quais o poeta Guerra Junqueiro, grande amigo de António José de Almeida, e António Luís Gomes, à data seu correligionário no Governo Provisório.
Os vinte anos de casamento parecem ter sido marcados por uma conjugalidade perfeita, como referiu a então viúva, Maria Joana Queiroga, na já referida entrevista à revista «Eva»:
«… eu fui uma mulher inteiramente feliz no meu casamento. Sempre vivi na adoração do meu marido, porque nunca o vi ter uma palavra ou uma atitude que não fossem de um homem superior. Ele era um homem bom, compreende o senhor?... Generoso, leal, idealista… sem nenhum rancor por ninguém, prezando mais a sua honra que o seu interesse.»
Confessava, ainda, que a única ocasião em que o casal se separou foi em 1922, quando António José de Almeida visitou o Brasil, tendo optado por não viajar com o marido por não ter dinheiro para se apresentar condignamente:
«Não acompanhei o meu marido nessa viagem …. Foi essa a única vez que tivemos separados: quando ele foi ao Brasil, no centenário da Independência…. Estivemos casados vinte anos, veja o senhor, e foi essa nossa única separação…».
Passados cento e três anos do casamento de António José de Almeida com Maria Joana Queiroga, este e outros documentos, bem como um conjunto de objetos, podem ser vistos na exposição «António José de Almeida e a "viagem gloriosa" ao Brasil», patente no Palácio Nacional de Belém, até 31 de março de 2024.
ESA