Há 25 anos, comemorava-se o 25.º aniversário da revolução que pôs fim à Ditadura e abriu o caminho para a Democracia em Portugal – a Revolução dos Cravos, nome que o povo consagrou. Era uma data redonda, como chamamos a estas datas que perfazem ciclos exatos de anos, normalmente múltiplos de meias décadas, décadas, séculos – 5, 10, 20, 25, 50, 100 anos –, marcos, tantas vezes festivos, para relembrar, reviver acontecimentos importantes.
Em 1999, era Presidente da República Jorge Sampaio e cumpria o seu primeiro mandato. A Assembleia da República era presidida por António Almeida Santos e o Governo tinha na sua chefia António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas.
As comemorações oficiais realizaram-se em dois dias: no dia 24 e no dia 25 de abril. Participaram também anteriores Presidentes: o marechal Costa Gomes e o general Ramalho Eanes.
No dia 24 de abril de 1999, o Presidente da República Jorge Sampaio visitou as Escolas Práticas de Infantaria, em Mafra, de Artilharia, em Vendas Novas, e de Cavalaria, em Santarém. Inaugurou três exposições alusivas ao 25 de Abril que cada uma das Escolas preparou e condecorou-as com a Ordem da Liberdade, criada pelo Presidente Ramalho Eanes, em 1976, para distinguir serviços prestados à causa «da Democracia e da Liberdade». Estas unidades militares tinham tido papéis decisivos no bom sucesso da Revolução.
Em Santarém, Jorge Sampaio inaugurou um monumento dedicado a Salgueiro Maia, já falecido nesta data, obra do escultor Raposo de França. O capitão Fernando José Salgueiro Maia, com apenas 29 anos, comandou uma coluna de militares da Escola Prática de Cavalaria, na madrugada do dia 25 abril. Em carros blindados, vieram de Santarém cercar os ministérios, no Terreiro do Paço, forçando o chefe do Governo Marcelo Caetano a demitir-se – caía a Ditadura. O rosto firme e tranquilo de Salgueiro Maia, visto pelo povo que saiu à rua e filmado pela televisão, tornou-o um símbolo dos capitães de Abril.
Na agenda do dia 24, o Presidente da República visitou também o posto de comando do Movimento das Forças Armadas (MFA), no Regimento de Engenharia n.º 1 (RE1), na Pontinha. Este posto tinha coordenado, 25 anos antes, as várias operações militares planeadas para o dia da revolução. Hoje, é um núcleo museológico do Museu Militar de Lisboa que se pode visitar.
Mais atividades contaram com a presença de Jorge Sampaio e Maria José Ritta, sua mulher, como a inauguração de uma exposição no Parque das Nações dedicada à Revolução dos Cravos.
No dia 25 de abril, o Presidente da República presidiu à sessão solene comemorativa do 25.º aniversário na Assembleia da República; depois de ter discursado, recebeu cumprimentos. Já no exterior, houve honras militares e o toque do Hino Nacional.
Ainda neste dia, o Presidente da República, num gesto público de carinho e consideração, visitou o tenente-coronel Ernesto Melo Antunes (postumamente promovido a coronel). Este importante militar de Abril, que veio a ocupar vários cargos de relevo nacional e internacional, encontrava-se fragilizado pela doença que o faria falecer poucos meses depois.
Daqui a alguns dias celebraremos os 50 anos da Revolução de Abril. Haverá cerimónias oficiais com o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e demais titulares dos órgãos de soberania. Haverá festa por todo o país. Portuguesas e portugueses festejarão a Liberdade e a Democracia conquistadas há meio século, nesse dia que Sofia de Melo Breyner consagrou nas suas palavras de poeta:
«Esta madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo».
AT