Monarquia (1870-1910)

Em 1870, a família real passou, pela primeira vez, uma longa temporada à beira-mar, em Cascais. Alojou-se na Cidadela, na casa do governador da fortaleza. A partir de então, D. Luís e D. Maria Pia, com os filhos, repetiram a temporada anualmente, após o verão em Sintra, hábito que se estendeu à elite social. Vários aniversários da família real coincidiam com a estada em Cascais, tornando-se momentos festivos da agenda.

A bateria virada a nascente, a casa do governador da fortaleza e o edifício de Santa Catarina, foram unidos, nascendo o Paço Real da Cidadela. O arquiteto Possidónio da Silva e grandes artistas de interiores domésticos produziram, ao longo de diversos anos, um ambiente requintado, de que ficou notável exemplo a Sala Árabe.

Em 1878, no aniversário de D. Carlos, ocorreu uma das primeiras experiências de luz elétrica em Portugal, sem dúvida a que foi mais noticiada. D. Luís mandou vir de Paris seis candeeiros iluminados pelo novo sistema de Jablochkoff. A imprensa deu ecos da admiração de quantos passearam à noite, junto à muralha da Cidadela. No final da temporada, o Rei ofereceu os candeeiros à Câmara Municipal de Lisboa.

O gosto pelo mar levou o Rei D. Luís a querer terminar os seus dias no Palácio da Cidadela. Aqui morreu no dia 19 de outubro de 1889. Com esta memória triste, a Rainha viúva não voltou a usar a fortaleza, acabando por comprar um chalé no Monte Estoril, sobranceiro ao mar.
Casas com uma arquitetura inesperada e extravagante foram surgindo em Cascais e principalmente no Monte Estoril; nas palavras mordazes de Ramalho Ortigão, tratava-se mesmo de «um aflitivo manicómio de prédios onde cada casa manifesta a sua especial mania: uma julga-se chinesa, outra suíça, outra gótica, outra normanda, esta supõe-se castelo feudal (...), esta imagina-se granja de Nuremberga».

D. Carlos herdou do pai a paixão pelo mar. No Palácio de Cascais mandou levantar um piso ao edifício de Santa Catarina, de grande requinte e modernidade, visível ainda hoje, por exemplo, nos espaços dedicados à sua higiene pessoal. Nestes seus aposentos instalou o primeiro laboratório de biologia marinha em Portugal, posto de estudo e apoio às doze explorações oceanográficas que promoveu.

Durante o reinado de D. Carlos, foram vários os convidados ilustres a passarem pelo Palácio de verão: o Rei do Sião, em 1897, Eduardo VII de Inglaterra, em 1903, o Presidente francês Émile Loubet, em 1905. Foi também na Cidadela que D. Carlos deu uma entrevista ao famoso jornal parisiense, Le Temps, em novembro de 1907. Algumas palavras proferidas sobre a situação política nacional terão sido o rastilho do fim trágico do Rei e do príncipe herdeiro, o assassínio em 1 de fevereiro de 1908.

Multimédia

Percorra a galeria carregando nas imagens para ampliá-las e ler as respetivas legendas.

Quarto de D. Luís. O Palácio da Cidadela visto a partir do Estoril. Sala Árabe. Sala de Estado. Aspeto atual do antigo Museu/laboratório de Oceanografia, designação dada no tempo de D. Carlos ao local onde estariam espécies recolhidas, instrumentos de uso corrente no mar, utensílios de pesca, livros de referência, equipamentos de observação e análise, entre outros materiais resultantes das expedições científicas (1896-1907) do Rei D. Carlos pela costa portuguesa. Sala de Estar dos aposentos do Rei D. Carlos. Sala de Jantar. Antigo quarto de dormir do Rei, um dos cómodos cujas paredes e tetos ainda exibem a decoração original, como as molduras em gesso, do tempo de D. Luís. A Sala Árabe pelo aguarelista espanhol Enrique Casanova.