Manuel Gomes da Costa
Biografia
Manuel Gomes da Costa foi um dos protagonistas do golpe militar do 28 de Maio de 1926. Tinha o apoio dos militares situados mais à direita nesse complexo movimento militar que pôs fim à I República Portuguesa.
Após derrubar José Mendes Cabeçadas Júnior, Gomes da Costa acumulou vários poderes, e no dia 29 de junho de 1926, um decreto conferiu-lhe, formalmente, a chefia do Estado. Exerceu, efetivamente, essas funções durante 22 dias, até ser deposto por um contragolpe liderado por Óscar Carmona.
Manuel de Oliveira Gomes da Costa nasceu em Lisboa, no dia 14 de janeiro de 1863, filho primogénito de Carlos Dias da Costa (1831 - ? ), natural de Pombalino (Soure), militar do Exército, e de Madalena Rosa de Oliveira e Mota (1836 - ? ), natural de Lisboa. Parte da infância de Gomes da Costa e das suas irmãs, Lucrécia (1869 - ?) e Maria Amália (1871-1953), foi passada em Macau, onde o pai, recentemente promovido a tenente, se encontrava destacado.
Já em Lisboa, aos 11 anos, ingressou no Colégio Militar onde esteve até completar o 5.º ano, deixando a instituição por ter atingido o limite de idade. Por indicação do pai, em novembro de 1880, assentou praça como voluntário na Companhia N.º 4 Artilharia de Guarnição (Ilha da Madeira), situação que não terá sido do seu agrado e que terá estado na origem da sua decisão de retomar os estudos. Em 1881, ingressou na Escola do Exército, concluindo o curso dois anos depois. Graduado em alferes, em 1884, foi colocado no Regimento de Infantaria N.º 11 (Tomar), a mesma unidade militar onde o pai se encontrava a prestar serviço. Nos dez anos seguintes, Gomes da Costa passou por diversas unidades militares do país.
Em 1886, casou-se com Henriqueta Júlia de Mira Godinho (1865-1936), natural de Lagos, com quem teve três filhos: Estela (1889-1968); Maria Manuela (1891-1969) e Carlos (1892-1967).
A carreira militar de Gomes da Costa progrediu de forma fulgurante: tenente (novembro de 1889); capitão para o Ultramar (julho de 1893); capitão (janeiro de 1898); major (fevereiro de 1908); tenente-coronel (junho de 1912); coronel (junho de 1914); general graduado (maio de 1917) e marechal (setembro de 1926).
De 1893 a 1916, viveu quase ininterruptamente na Índia e em África, ao serviço do então Exército Colonial. Esteve em praticamente todas as colónias, em missões de combate, reconhecimento, inspeção e administração.
No Estado da Índia, foi ajudante de ordens do governador-geral (1893) e administrador do Concelho das Ilhas de Goa (1894), entre outras funções que desempenhou naquele território. Datam desse período o restauro dos retratos dos vice-reis da Índia (datados dos séculos XVI ao XVIII) executado pelo então capitão Manuel Gomes da Costa, muito provavelmente no âmbito da criação de um núcleo museológico na Velha Goa, cuja intenção havia sido anunciada na mesma altura. Intervenções questionáveis, pelas alterações introduzidas nas obras originais, acabariam por não chegar aos nossos dias (devido a repintes posteriores), tendo sido descobertas aquando das análises efetuadas na década de 1950. Ainda em 1894, a pedido do governador-geral, Rafael Jácome de Andrade, Gomes da Costa realizou um conjunto de 105 aguarelas dos retratos da mesma galeria dos vice-reis, para serem oferecidas ao Rei D. Carlos. Polémicas à parte, são trabalhos que, juntamente com algumas aguarelas que se encontram no Arquivo dos Presidentes MPR, comprovam o gosto e o talento de Manuel Gomes da Costa para a pintura, nomeadamente a aguarela.
A primeira permanência de Gomes da Costa em território africano – Moçambique – decorreu entre 1896 e 1903, às ordens do governador-geral Mouzinho de Albuquerque. Foi capitão-mor de Mossuril (1906-1907) e participou nas campanhas de ocupação do território moçambicano. No início do século XX, desempenhou funções sucessivamente em Moçambique, Angola, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Foi inspetor das Unidades Indígenas de Moçambique (1908-1912); chefe do Estado-Maior de Angola (1912); inspetor do Corpo de Polícia de S. Tomé e Príncipe (1913-1914) e chefe do Estado-Maior Interino de S. Tomé e Príncipe (1913-1914).
Foi, contudo, no Corpo Expedicionário Português (CEP), constituído na sequência da declaração de guerra da Alemanha a Portugal (1916), que Gomes da Costa adquiriu a popularidade que, anos mais tarde, o levaria a ser um dos protagonistas do golpe militar que pôs termo à I República Portuguesa.
No dia 30 de janeiro de 1917, em plena Grande Guerra, partiu para a Flandres ao comando da 1.ª Divisão do CEP que se ia juntar às restantes tropas aliadas. Um decreto de maio de 1918, promoveu-o a general por distinção e, por méritos e feitos militares no teatro de operações da Flandres, nomeadamente na Batalha de La Lys (9 de abril de 1918), foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada.
Terminada a guerra, e à semelhança de muitos dos militares que participaram no conflito, Gomes da Costa envolveu-se de forma intensa na vida política nacional. Apoiou a República Nova de Sidónio Pais e aderiu, sucessivamente, ao Partido Centrista de Egas Moniz, ao Partido Reformista (pelo qual foi candidato às eleições legislativas de 1921), à Federação Nacional Republicana de Machado Santos e ao Partido Republicano Radical, dirigido por Francisco da Cunha Leal. Em comum, estes movimentos políticos tinham o facto de se posicionarem à direita e contra o Partido Democrático que se encontrava no poder. Integrou também, até 1922, a organização tradicionalista e conservadora Cruzada Nacional Nun'Álvares, que desempenhou um relevante papel na preparação do ambiente político antirrepublicano.
O intervencionismo político de Gomes da Costa cresceu ao longo da década de 1920, e transparecia nos diversos artigos que publicava na Seara Nova, no Opinião, no Jornal da Madeira, entre outros periódicos. Criticava a forma como Portugal participara na Grande Guerra; defendia a reorganização do Exército, e censurava duramente os sucessivos governos do Partido Democrático, nomeadamente o ministro da Guerra, coronel João Estevão Águas, o que lhe valeu, em junho de 1920, 20 dias de prisão correcional, no Forte da Graça (Elvas). Dois anos depois, na sequência de uma entrevista ao jornal Opinião, voltou a ser punido com 20 dias de prisão, no Forte de Caxias (Oeiras). Ainda em 1922, foi nomeado inspetor Extraordinário às Colónias do Oriente, uma missão sem qualquer conteúdo militar ou político. Esteve em Macau e no Estado da Índia, regressando a Lisboa em 1924.
Cresciam, entretanto, os apelos à intervenção de Gomes da Costa, vindos de diferentes setores da sociedade portuguesa, com o objetivo de o atrair para o movimento que estava em preparação com vista ao derrube do Partido Democrático.
O 28 de Maio de 1926
Nas vésperas do 28 de Maio de 1926, aos 63 anos, crítico do sistema, e com fama de destemido, o general Manuel Gomes da Costa foi contactado por José Mendes Cabeçadas Júnior para liderar o golpe, a partir de Braga. Assumiu a liderança do pronunciamento militar naquela cidade minhota, descendo até à capital sem encontrar resistência ou oposição, chegando a Lisboa no dia 6 de junho.
Mendes Cabeçadas, líder da fação republicana conservadora da conspiração, liderou a revolta militar em Lisboa, e, em 31 de maio, recebeu do Presidente da República Bernardino Machado as suas funções constitucionais.
Seguiu-se uma fase de intenso confronto entre as diferentes fações do movimento que, sem um projeto político definido além do derrube do regime, lutavam pela chefia do Governo e do Estado.
Numa primeira fase, a disputa foi entre Mendes Cabeçadas, que, tendo recebido o poder de Bernardino Machado, procurava evitar uma ditadura militar, contando com as forças militares de Lisboa, e Manuel Gomes da Costa, que tinha o apoio da maioria das divisões militares do país. Ainda no Porto, Gomes da Costa fez saber que o governo de Cabeçadas não merecia a confiança do Exército e ordenou o avanço das tropas sobre Lisboa com o objetivo de se sobrepor a Mendes Cabeçadas e seus apoiantes.
Sucederam-se, então, vários encontros entre os líderes das diferentes fações e no dia 1 de junho, em Coimbra, constituiu-se um triunvirato – Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa e Armando da Gama Ochoa – que distribuiu as pastas ministeriais entre si.
Pressionado pelo grupo de João Sinel de Cordes (militar conservador), entre outros que pretendiam o afastamento de Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa recusou o elenco governativo proposto por Cabeçadas. As suas críticas dirigiam-se essencialmente a Gama Ochoa e à exclusão de Óscar Carmona, nome por si sugerido.
No dia 3 de junho, numa reunião em Sacavém, acordou-se a constituição de uma Junta Governativa, que se manteria em funções até 17 de junho, composta por Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa e Óscar Carmona. A 6 de junho, concluída a concentração de forças no Entroncamento e em Sacavém, e afirmada a vitória militar da Revolução Nacional, Gomes da Costa entrou em Lisboa, montado a cavalo e erguendo a sua espada, à frente de 15 mil homens provenientes das unidades militares de todo o país. O general assumia-se, assim, como o vencedor e chefe do 28 de Maio.
No dia 14 de junho, Gomes da Costa apresentou ao Conselho de Ministros um conjunto de linhas programáticas que visavam não só a definição das orientações a seguir pelo executivo, mas também a radicalização (à direita) do regime. Em concreto, Gomes da Costa e os seus apoiantes propunham o reforço dos poderes do Presidente da República, a descentralização administrativa, a organização corporativa da economia, a defesa da economia nacional em relação à competição estrangeira, um maior apoio do Estado ao trabalho nacional, a revisão das leis da família e das referentes à Igreja e a reorganização do ensino. Em suma, propunham um programa de governo de raiz corporativista e antiliberal.
A recusa de Cabeçadas em aceitar este programa levou Gomes da Costa a conspirar, tendo em vista o seu afastamento de todas as funções governativas. No dia 17 de junho de 1926, e desde Santarém, enviou um ultimato a Mendes Cabeçadas para este se demitir.
Sem capacidade para fazer convergir as várias correntes republicanas e de confrontar a fação militarista e antidemocrática, José Mendes Cabeçadas Júnior abandonou o poder em 17 de junho. Nesse mesmo dia, o general Gomes da Costa foi empossado como presidente do Ministério.
Depois da chefia do Estado
No dia 30 de setembro de 1926, estando Manuel Gomes da Costa exilado nos Açores, o governo da Ditadura Militar conferiu-lhe o bastão de marechal do Exército Português (Decreto n.º 12397), pelos relevantes serviços prestados em campanha em África e em França.
Em outubro seguinte, foi transferido para Ponta Delgada, regressando a Lisboa em novembro de 1927. Por continuar a conspirar, foi mandado para Roma, em 1928, onde esteve durante um mês, fixando-se depois, por algum tempo, em Nice (França). Em maio de 1928, regressou definitivamente a Portugal. Morreu em Lisboa, no dia 17 de dezembro de 1929, um mês antes de completar 67 anos.
Biografia completa
Manuel de Oliveira Gomes da Costa nasceu em Lisboa, no dia 14 de janeiro de 1863, filho primogénito de Carlos Dias da Costa (1831 - ? ), natural de Pombalino (Soure), militar do Exército, e de Madalena Rosa de Oliveira e Mota (1836 - ? ), natural de Lisboa. Parte da infância de Gomes da Costa e das suas irmãs, Lucrécia (1869 - ?) e Maria Amália (1871-1953), foi passada em Macau, onde o pai, recentemente promovido a tenente, se encontrava destacado.
Já em Lisboa, aos 11 anos, ingressou no Colégio Militar onde esteve até completar o 5.º ano, deixando a instituição por ter atingido o limite de idade. Por indicação do pai, em novembro de 1880, assentou praça como voluntário na Companhia N.º 4 Artilharia de Guarnição (Ilha da Madeira), situação que não terá sido do seu agrado e que terá estado na origem da sua decisão de retomar os estudos. Em 1881, ingressou na Escola do Exército, concluindo o curso dois anos depois. Graduado em alferes, em 1884, foi colocado no Regimento de Infantaria N.º 11 (Tomar), a mesma unidade militar onde o pai se encontrava a prestar serviço. Nos dez anos seguintes, Gomes da Costa passou por diversas unidades militares do país.
Em 1886, casou-se com Henriqueta Júlia de Mira Godinho (1865-1936), natural de Lagos, com quem teve três filhos: Estela (1889-1968); Maria Manuela (1891-1969) e Carlos (1892-1967).
A carreira militar de Gomes da Costa progrediu de forma fulgurante: tenente (novembro de 1889); capitão para o Ultramar (julho de 1893); capitão (janeiro de 1898); major (fevereiro de 1908); tenente-coronel (junho de 1912); coronel (junho de 1914); general graduado (maio de 1917) e marechal (setembro de 1926).
De 1893 a 1916, viveu quase ininterruptamente na Índia e em África, ao serviço do então Exército Colonial. Esteve em praticamente todas as colónias, em missões de combate, reconhecimento, inspeção e administração.
No Estado da Índia, foi ajudante de ordens do governador-geral (1893) e administrador do Concelho das Ilhas de Goa (1894), entre outras funções que desempenhou naquele território. Datam desse período o restauro dos retratos dos vice-reis da Índia (datados dos séculos XVI ao XVIII) executado pelo então capitão Manuel Gomes da Costa, muito provavelmente no âmbito da criação de um núcleo museológico na Velha Goa, cuja intenção havia sido anunciada na mesma altura. Intervenções questionáveis, pelas alterações introduzidas nas obras originais, acabariam por não chegar aos nossos dias (devido a repintes posteriores), tendo sido descobertas aquando das análises efetuadas na década de 1950. Ainda em 1894, a pedido do governador-geral, Rafael Jácome de Andrade, Gomes da Costa realizou um conjunto de 105 aguarelas dos retratos da mesma galeria dos vice-reis, para serem oferecidas ao Rei D. Carlos. Polémicas à parte, são trabalhos que, juntamente com algumas aguarelas que se encontram no Arquivo dos Presidentes MPR, comprovam o gosto e o talento de Manuel Gomes da Costa para a pintura, nomeadamente a aguarela.
A primeira permanência de Gomes da Costa em território africano – Moçambique – decorreu entre 1896 e 1903, às ordens do governador-geral Mouzinho de Albuquerque. Foi capitão-mor de Mossuril (1906-1907) e participou nas campanhas de ocupação do território moçambicano. No início do século XX, desempenhou funções sucessivamente em Moçambique, Angola, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Foi inspetor das Unidades Indígenas de Moçambique (1908-1912); chefe do Estado-Maior de Angola (1912); inspetor do Corpo de Polícia de S. Tomé e Príncipe (1913-1914) e chefe do Estado-Maior Interino de S. Tomé e Príncipe (1913-1914).
Foi, contudo, no Corpo Expedicionário Português (CEP), constituído na sequência da declaração de guerra da Alemanha a Portugal (1916), que Gomes da Costa adquiriu a popularidade que, anos mais tarde, o levaria a ser um dos protagonistas do golpe militar que pôs termo à I República Portuguesa.
No dia 30 de janeiro de 1917, em plena Grande Guerra, partiu para a Flandres ao comando da 1.ª Divisão do CEP que se ia juntar às restantes tropas aliadas. Um decreto de maio de 1918, promoveu-o a general por distinção e, por méritos e feitos militares no teatro de operações da Flandres, nomeadamente na Batalha de La Lys (9 de abril de 1918), foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada.
Terminada a guerra, e à semelhança de muitos dos militares que participaram no conflito, Gomes da Costa envolveu-se de forma intensa na vida política nacional. Apoiou a República Nova de Sidónio Pais e aderiu, sucessivamente, ao Partido Centrista de Egas Moniz, ao Partido Reformista (pelo qual foi candidato às eleições legislativas de 1921), à Federação Nacional Republicana de Machado Santos e ao Partido Republicano Radical, dirigido por Francisco da Cunha Leal. Em comum, estes movimentos políticos tinham o facto de se posicionarem à direita e contra o Partido Democrático que se encontrava no poder. Integrou também, até 1922, a organização tradicionalista e conservadora Cruzada Nacional Nun'Álvares, que desempenhou um relevante papel na preparação do ambiente político antirrepublicano.
O intervencionismo político de Gomes da Costa cresceu ao longo da década de 1920, e transparecia nos diversos artigos que publicava na Seara Nova, no Opinião, no Jornal da Madeira, entre outros periódicos. Criticava a forma como Portugal participara na Grande Guerra; defendia a reorganização do Exército, e censurava duramente os sucessivos governos do Partido Democrático, nomeadamente o ministro da Guerra, coronel João Estevão Águas, o que lhe valeu, em junho de 1920, 20 dias de prisão correcional, no Forte da Graça (Elvas). Dois anos depois, na sequência de uma entrevista ao jornal Opinião, voltou a ser punido com 20 dias de prisão, no Forte de Caxias (Oeiras). Ainda em 1922, foi nomeado inspetor Extraordinário às Colónias do Oriente, uma missão sem qualquer conteúdo militar ou político. Esteve em Macau e no Estado da Índia, regressando a Lisboa em 1924.
Cresciam, entretanto, os apelos à intervenção de Gomes da Costa, vindos de diferentes setores da sociedade portuguesa, com o objetivo de o atrair para o movimento que estava em preparação com vista ao derrube do Partido Democrático.
O 28 de Maio de 1926
Nas vésperas do 28 de Maio de 1926, aos 63 anos, crítico do sistema, e com fama de destemido, o general Manuel Gomes da Costa foi contactado por José Mendes Cabeçadas Júnior para liderar o golpe, a partir de Braga. Assumiu a liderança do pronunciamento militar naquela cidade minhota, descendo até à capital sem encontrar resistência ou oposição, chegando a Lisboa no dia 6 de junho.
Mendes Cabeçadas, líder da fação republicana conservadora da conspiração, liderou a revolta militar em Lisboa, e, em 31 de maio, recebeu do Presidente da República Bernardino Machado as suas funções constitucionais.
Seguiu-se uma fase de intenso confronto entre as diferentes fações do movimento que, sem um projeto político definido além do derrube do regime, lutavam pela chefia do Governo e do Estado.
Numa primeira fase, a disputa foi entre Mendes Cabeçadas, que, tendo recebido o poder de Bernardino Machado, procurava evitar uma ditadura militar, contando com as forças militares de Lisboa, e Manuel Gomes da Costa, que tinha o apoio da maioria das divisões militares do país. Ainda no Porto, Gomes da Costa fez saber que o governo de Cabeçadas não merecia a confiança do Exército e ordenou o avanço das tropas sobre Lisboa com o objetivo de se sobrepor a Mendes Cabeçadas e seus apoiantes.
Sucederam-se, então, vários encontros entre os líderes das diferentes fações e no dia 1 de junho, em Coimbra, constituiu-se um triunvirato – Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa e Armando da Gama Ochoa – que distribuiu as pastas ministeriais entre si.
Pressionado pelo grupo de João Sinel de Cordes (militar conservador), entre outros que pretendiam o afastamento de Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa recusou o elenco governativo proposto por Cabeçadas. As suas críticas dirigiam-se essencialmente a Gama Ochoa e à exclusão de Óscar Carmona, nome por si sugerido.
No dia 3 de junho, numa reunião em Sacavém, acordou-se a constituição de uma Junta Governativa, que se manteria em funções até 17 de junho, composta por Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa e Óscar Carmona. A 6 de junho, concluída a concentração de forças no Entroncamento e em Sacavém, e afirmada a vitória militar da Revolução Nacional, Gomes da Costa entrou em Lisboa, montado a cavalo e erguendo a sua espada, à frente de 15 mil homens provenientes das unidades militares de todo o país. O general assumia-se, assim, como o vencedor e chefe do 28 de Maio.
No dia 14 de junho, Gomes da Costa apresentou ao Conselho de Ministros um conjunto de linhas programáticas que visavam não só a definição das orientações a seguir pelo executivo, mas também a radicalização (à direita) do regime. Em concreto, Gomes da Costa e os seus apoiantes propunham o reforço dos poderes do Presidente da República, a descentralização administrativa, a organização corporativa da economia, a defesa da economia nacional em relação à competição estrangeira, um maior apoio do Estado ao trabalho nacional, a revisão das leis da família e das referentes à Igreja e a reorganização do ensino. Em suma, propunham um programa de governo de raiz corporativista e antiliberal.
A recusa de Cabeçadas em aceitar este programa levou Gomes da Costa a conspirar, tendo em vista o seu afastamento de todas as funções governativas. No dia 17 de junho de 1926, e desde Santarém, enviou um ultimato a Mendes Cabeçadas para este se demitir.
Sem capacidade para fazer convergir as várias correntes republicanas e de confrontar a fação militarista e antidemocrática, José Mendes Cabeçadas Júnior abandonou o poder em 17 de junho. Nesse mesmo dia, o general Gomes da Costa foi empossado como presidente do Ministério.
Depois da chefia do Estado
No dia 30 de setembro de 1926, estando Manuel Gomes da Costa exilado nos Açores, o governo da Ditadura Militar conferiu-lhe o bastão de marechal do Exército Português (Decreto n.º 12397), pelos relevantes serviços prestados em campanha em África e em França.
Em outubro seguinte, foi transferido para Ponta Delgada, regressando a Lisboa em novembro de 1927. Por continuar a conspirar, foi mandado para Roma, em 1928, onde esteve durante um mês, fixando-se depois, por algum tempo, em Nice (França). Em maio de 1928, regressou definitivamente a Portugal. Morreu em Lisboa, no dia 17 de dezembro de 1929, um mês antes de completar 67 anos.
Mandato Presidencial
Na chefia do Estado: 29 de junho de 1926 - 9 de julho de 1926
No dia 29 de junho de 1926, o Decreto n.º 11789 concedeu poderes presidenciais ao presidente do Ministério enquanto não era eleito o Presidente da República. Apoiado pelos setores político-militares mais à direita, Manuel Gomes da Costa acumulava, assim, as principais funções de liderança político-institucional do país.
O novo executivo que liderava tomou posse em 19 de junho, sendo predominantemente composto por pessoal político afeto ao bloco conservador. Influenciado pelos setores mais radicais de tendência fascizante do amplo universo de apoiantes da Ditadura Militar, Gomes da Costa acabou, no entanto, por assumir posições que levariam ao seu afastamento.
Em 6 de julho de 1926, no decorrer de um atribulado Conselho de Ministros, quando Gomes da Costa impôs a Manuel Rodrigues Júnior, ministro da Justiça e dos Cultos, a alteração de um decreto sobre matéria religiosa, ouviram-se os protestos dos ministros Carmona, Ochoa e António Claro. Gomes da Costa demitiu-os de imediato, substituindo-os por Martinho Nobre de Melo (Negócios Estrangeiros) e pelo coronel João de Almeida (Colónias), ficando com a pasta do Interior. Todos os restantes ministros se solidarizaram com os demitidos e abandonaram o Governo.
O Exército respondeu e, na noite do dia 8 de julho, Sinel de Cordes e Raul Esteves apresentaram-se no Palácio de Belém a Gomes da Costa, acompanhados pelo comandante militar de Lisboa e pelos comandantes da GNR e das tropas ainda estacionadas em Sacavém. Manifestaram-se contra as demissões, e exigiram que Gomes da Costa abandonasse a chefia do Ministério, ainda que pudesse manter o lugar de Chefe do Estado. Gomes da Costa recusou e foi procurar apoio junto dos quartéis de Lisboa e da Amadora, em vão. Na madrugada de 9 de julho, ficou decidida a sua demissão pelo Decreto n.º 11866 e ordenada a sua prisão. Do Palácio de Belém foi conduzido ao Forte de Caxias, de onde transitou para o Palácio da Cidadela de Cascais e, posteriormente, em 11 de julho, para o exílio nos Açores, na cidade de Angra do Heroísmo.
Nesse mesmo dia 11 de julho, o general Óscar Carmona, próximo do setor militar republicano-conservador, foi empossado como novo chefe do Governo e assumiu de forma interina a Presidência da República.
Retrato Oficial
O retrato a óleo, do pintor Carlos Reis, foi executado em 1899, quando Gomes da Costa era já considerado um herói das guerras de África. O reconhecimento do seu mérito é espelhado nas muitas medalhas e condecorações que ostenta, destacando-se o colar do grau de Grande-Oficial da Ordem Militar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Em 2004, com a criação do Museu da Presidência da República, o Museu José Malhoa doou o retrato de Gomes da Costa, passando a integrar o elenco dos retratos oficiais dos chefes do Estado.