António José de Almeida
Biografia
António José de Almeida foi o 6.º Presidente da República Portuguesa.
Foi eleito em 6 de agosto de 1919, com o apoio dos partidos Evolucionista e Unionista e de muitos apoiantes do Partido Democrático.
À data da sua eleição, era já uma das figuras mais prestigiadas do republicanismo, em grande parte pela eloquência e capacidade retórica que faziam dele «o tribuno da República».
Durante a sua Presidência, a Constituição foi revista, tendo-se atribuído ao Chefe do Estado o poder de dissolução do Congresso.
Foi o único Presidente que, durante a I República (1910-1926) cumpriu na íntegra os quatro anos de mandato presidencial fixados pela Constituição de então.
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha, concelho de Penacova, em 17 de julho de 1866, filho de José António de Almeida e Maria Rita das Neves Almeida.
De origens modestas, o seu pai tornou-se um pequeno industrial e comerciante local, chegando a ocupar a presidência da Câmara de Penacova no final do século XIX.
Em 1880, matriculou-se no Liceu Central de Coimbra, terminando o Curso Geral dos Liceus em 1885. Nesse mesmo ano, inscreveu-se nos preparatórios de Medicina.
Em julho de 1889, ingressou no curso de Medicina da Universidade de Coimbra e, em 1894, concluiu o bacharelato, recebendo o Prémio Barão de Castelo de Paiva pelas suas qualidades como estudante.
No ano seguinte, finalizou o curso de Medicina, sendo novamente agraciado pelas suas qualidades como aluno («1.º distinto»). Foi aprovado por unanimidade com a classificação de «Bom» (15 valores) no exame de formatura em Prática Médica e Cirúrgica.
Apesar dos bons resultados, não foi admitido no corpo docente da Faculdade como era seu desejo. O episódio foi por si denunciado na obra Desaffronta (História d'uma perseguição), publicada ainda em 1895. Nela acusava três professores de terem preparado a sua exclusão, elogiando, pelo contrário, os que o haviam defendido.
Em 14 de dezembro de 1910, casou-se com Maria Joana Morais Queiroga, de quem teve uma filha (Maria Teresa).
Atividade Profissional: Médico de «doenças dos países quentes»
Depois de lhe ter sido recusado o ingresso no corpo docente da Faculdade de Medicina, partiu para São Tomé e Príncipe (1896), onde exerceu clínica e se especializou em doenças tropicais.
Permaneceu na colónia até 1903, amealhando uma pequena fortuna que gastou, mais tarde, no jornalismo e na política. Regressado a Lisboa em julho desse ano, partiu para uma viagem de estudo e descanso a França, Itália, Suíça e Holanda.
No início do ano seguinte, retornou à capital e abriu consultório na Rua do Ouro como médico das «doenças dos países quentes» (conforme o cartão de visita), mudando-se depois para a Praça de Camões. Tornou-se querido de uma vasta clientela popular.
Percurso Político: o «tribuno popular»
Republicano desde o início do seu percurso académico, viveu intensamente o período do Ultimato inglês (11 de janeiro de 1890), distinguindo-se por um contundente ataque ao rei D. Carlos no jornal académico de Coimbra O Ultimatum, onde publicou um artigo intitulado «Bragança, o último» (23 de março de 1890).
Na sequência deste episódio, foi-lhe instaurado um processo judicial e condenado a uma pena de três meses de prisão. Manuel de Arriaga patrocinou a sua defesa. Aquando da sua libertação, foi alvo de grandes aclamações populares.
Ainda estudante, assinou o Manifesto da Academia de Coimbra, no qual se afirmavam os princípios republicanos (1890), e apoiou a revolta republicana do Porto sem sofrer consequências (1891).
Começou, por essa altura, a colaborar nos jornais O Alarme e Azagaia.
Ainda em 1891, publicou o folheto As Manifestações Académicas do dia 18, no qual pugnou pelo direito dos estudantes se manifestarem contra a família real e a Monarquia. O panfleto teve origem nos acontecimentos de 18 de novembro em Coimbra, quando a família real, ao passar pela estação dessa cidade, foi alvo de manifestação de protesto por parte dos estudantes republicanos, episódio que causou grande perturbação.
Em 15 de janeiro de 1893, foi o principal orador no funeral de José Falcão, professor de Matemática e fervoroso republicano.
Durante a sua estadia em São Tomé, promoveu a Associação Pró Pátria, destinada a dar apoio ao colono, ao seu eventual repatriamento e/ou dos seus familiares.
Em 24 de janeiro de 1905, discursou no funeral do artista republicano Rafael Bordalo Pinheiro.
Estreou-se na atividade partidária nas fileiras do Partido Republicano Português (PRP). Nas eleições de 1905, apresentou-se como candidato pelo círculo de Lisboa, não sendo, no entanto, eleito.
No Congresso do PRP de julho de 1906, foi eleito para o directório com António Luís Gomes, Bernardino Machado, Afonso Costa e Celestino de Almeida. Cedo se tornou uma das figuras mais conhecidas e prestigiadas do republicanismo.
Nas eleições de 19 de agosto do mesmo ano, foi eleito deputado do PRP pelo círculo oriental de Lisboa, ao lado de Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Meneses (estes dois últimos por Lisboa Ocidental).
Escreveu para vários jornais, sobretudo para A Lucta, mas foi no Parlamento e nos comícios dos últimos anos da Monarquia que a sua eloquência e arte retórica fizeram dele o caudilho indiscutível da causa republicana.
Durante o debate sobre a questão dos «adiantamentos à Casa Real» (1906), e na sequência da expulsão de Afonso Costa e Alexandre Braga da Câmara dos Deputados pelos seus «excessos verbais» contra o rei, Almeida improvisou um discurso convidando os soldados a aliar-se à revolução republicana.
Em 1907, entrou na Maçonaria (loja Montanha, n.º 214, de Lisboa) com o nome simbólico de Álvaro Vaz de Almada (um dos companheiros do infante D. Pedro). Mais tarde, veio ainda a pertencer à Carbonária.
Conspirador contra a ditadura de João Franco, participou ativamente na preparação do movimento revolucionário para derrubar a Monarquia.
A ação repressiva da ditadura provocou uma mudança na definição da estratégia do PRP. Gradualmente, a linha que defendia a ação revolucionária imediata foi ganhando terreno, o que conduziu à aliança com outras forças, nomeadamente a Carbonária e a Corporação dos Sargentos.
Uma denúncia levou à prisão dos principais chefes: Luz de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e António José de Almeida, que estabeleceu os contactos entre o diretório do partido e a organização revolucionária. Privado dos seus principais líderes, o movimento veio para a rua, mas foi prontamente sufocado. António José de Almeida foi preso em 26 de janeiro de 1908 e logo libertado após o regicídio.
Em 5 de abril de 1908, foi novamente eleito como deputado.
No Congresso Republicano de 1909, foi nomeado um Comité Revolucionário. Da secção militar faziam parte Cândido dos Reis, João Chagas e Afonso Costa e a direcção da parte civil foi entregue a António José de Almeida.
Em 1910, fundou às suas expensas a revista Alma Nacional, que dirigiu, e onde colaborou assiduamente até à proclamação da República.
Nas eleições de 28 de agosto de 1910 (as últimas da Monarquia Constitucional), foram eleitos 14 deputados republicanos, entre os quais Almeida.
Proclamada a República em 5 de outubro de 1910, foi nomeado ministro do Interior do governo provisório presidido por Teófilo Braga. À frente do Ministério, que tutelou até setembro de 1911, desenvolveu uma intensa atividade, sobretudo no campo da instrução pública.
Todavia, o destaque vai para o decreto da sua autoria, lançado em 14 de março de 1911, que revogava a Lei Eleitoral de 1901 - a «Ignóbil Porcaria», como ficou conhecida. Entre outras medidas, este decreto alargava substancialmente o sufrágio: foi concedido direito de voto a todos os portugueses maiores de 21 anos (não especificando o sexo) que soubessem ler e escrever, ou que, não o sabendo, fossem chefes de família há mais de um ano. Ao contrário do que sempre fora defendido pelo republicanismo, este decreto não instituiu o sufrágio universal.
Ainda ministro, fundou e dirigiu o jornal República (1911), que se tornou o órgão de combate e de expressão dos republicanos que se oponham a Afonso Costa e às suas tendências radicais. Aí escreveu continuamente até 1919.
Em fevereiro de 1912, fundou o Partido Evolucionista (PE), por discordar da linha política seguida por Afonso Costa no PRP. Mau grado a sua aparente força e a projeção nacional que alcançou, as alianças e as atitudes levadas a cabo pelos seus representantes parlamentares deram-lhe uma imagem demasiado direitista.
Em janeiro de 1913, foi chamado a formar governo pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, o que não conseguiu, sendo o executivo entregue ao seu adversário Afonso Costa.
Em agosto, foi eleito presidente do Partido Evolucionista (PE).
Após a eclosão da I Guerra Mundial (1914-1918), defendeu a intervenção de Portugal no conflito sob a alçada da aliança inglesa.
Em 1915, apoiou o primeiro-ministro Pimenta de Castro, mesmo depois da instauração da ditadura e da proibição de o Congresso se reunir.
Em 1916, perante a gravidade da situação internacional, António José de Almeida reconciliou-se com Afonso Costa e aceitou a presidência do governo da «União Sagrada» (março de 1916 a abril de 1917), onde também geriu a pasta das Colónias.
Eleição
António José de Almeida foi eleito Presidente da República em 6 de agosto de 1919. Proposto pelos partidos Evolucionista e Unionista, dispôs do apoio de muitos Democráticos.
No primeiro escrutínio, teve uma vantagem de apenas 5 votos relativamente a Manuel Teixeira Gomes. No segundo, também nenhum candidato alcançou os dois terços necessários. Finalmente, no terceiro, António José de Almeida obteve 123 votos contra 31 de Teixeira Gomes e 13 listas brancas.
Tomou posse em 5 de outubro de 1919.
António José de Almeida foi o único Presidente da I República que cumpriu integralmente os quatro anos de mandato (até 5 de outubro de 1923).
Depois da presidência
Findo o seu mandato presidencial, António José de Almeida regressou ainda às lides políticas, sendo eleito deputado por Lisboa em 1925.
Contudo, a breve trecho, a doença afastou-o definitivamente da política. Obrigado a viver os últimos anos numa cadeira de rodas, refugiou-se no convívio familiar, rodeado pelos amigos. Viveu modestamente, gasta que estava a pequena fortuna que amealhara em São Tomé.
Até ao fim dos seus dias, continuou a ser considerado como uma espécie de «presidente honorário» da República, estatuto que lhe foi reconhecido mesmo pelos dirigentes da Ditadura Militar instaurada em 1926, que ganharam o hábito de o visitar no dia 5 de outubro.
Em inícios de 1929, foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, mas não chegou a tomar posse devido ao seu estado de saúde.
Atacado de gota, morreu em Lisboa em 31 de outubro de 1929. Em sua memória, foi erigido um monumento da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquiteto Pardal Monteiro na atual Avenida António José de Almeida (1937). A oposição à ditadura fará da romagem ao local, nas comemorações do 5 de outubro, uma manifestação de protesto contra o regime.
Também o jornal República, por ele fundado em 1911, continuou a ser publicado, tornando-se a tribuna preferencial dos oposicionistas ao regime ditatorial.
Biografia completa
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha, concelho de Penacova, em 17 de julho de 1866, filho de José António de Almeida e Maria Rita das Neves Almeida.
De origens modestas, o seu pai tornou-se um pequeno industrial e comerciante local, chegando a ocupar a presidência da Câmara de Penacova no final do século XIX.
Em 1880, matriculou-se no Liceu Central de Coimbra, terminando o Curso Geral dos Liceus em 1885. Nesse mesmo ano, inscreveu-se nos preparatórios de Medicina.
Em julho de 1889, ingressou no curso de Medicina da Universidade de Coimbra e, em 1894, concluiu o bacharelato, recebendo o Prémio Barão de Castelo de Paiva pelas suas qualidades como estudante.
No ano seguinte, finalizou o curso de Medicina, sendo novamente agraciado pelas suas qualidades como aluno («1.º distinto»). Foi aprovado por unanimidade com a classificação de «Bom» (15 valores) no exame de formatura em Prática Médica e Cirúrgica.
Apesar dos bons resultados, não foi admitido no corpo docente da Faculdade como era seu desejo. O episódio foi por si denunciado na obra Desaffronta (História d'uma perseguição), publicada ainda em 1895. Nela acusava três professores de terem preparado a sua exclusão, elogiando, pelo contrário, os que o haviam defendido.
Em 14 de dezembro de 1910, casou-se com Maria Joana Morais Queiroga, de quem teve uma filha (Maria Teresa).
Atividade Profissional: Médico de «doenças dos países quentes»
Depois de lhe ter sido recusado o ingresso no corpo docente da Faculdade de Medicina, partiu para São Tomé e Príncipe (1896), onde exerceu clínica e se especializou em doenças tropicais.
Permaneceu na colónia até 1903, amealhando uma pequena fortuna que gastou, mais tarde, no jornalismo e na política. Regressado a Lisboa em julho desse ano, partiu para uma viagem de estudo e descanso a França, Itália, Suíça e Holanda.
No início do ano seguinte, retornou à capital e abriu consultório na Rua do Ouro como médico das «doenças dos países quentes» (conforme o cartão de visita), mudando-se depois para a Praça de Camões. Tornou-se querido de uma vasta clientela popular.
Percurso Político: o «tribuno popular»
Republicano desde o início do seu percurso académico, viveu intensamente o período do Ultimato inglês (11 de janeiro de 1890), distinguindo-se por um contundente ataque ao rei D. Carlos no jornal académico de Coimbra O Ultimatum, onde publicou um artigo intitulado «Bragança, o último» (23 de março de 1890).
Na sequência deste episódio, foi-lhe instaurado um processo judicial e condenado a uma pena de três meses de prisão. Manuel de Arriaga patrocinou a sua defesa. Aquando da sua libertação, foi alvo de grandes aclamações populares.
Ainda estudante, assinou o Manifesto da Academia de Coimbra, no qual se afirmavam os princípios republicanos (1890), e apoiou a revolta republicana do Porto sem sofrer consequências (1891).
Começou, por essa altura, a colaborar nos jornais O Alarme e Azagaia.
Ainda em 1891, publicou o folheto As Manifestações Académicas do dia 18, no qual pugnou pelo direito dos estudantes se manifestarem contra a família real e a Monarquia. O panfleto teve origem nos acontecimentos de 18 de novembro em Coimbra, quando a família real, ao passar pela estação dessa cidade, foi alvo de manifestação de protesto por parte dos estudantes republicanos, episódio que causou grande perturbação.
Em 15 de janeiro de 1893, foi o principal orador no funeral de José Falcão, professor de Matemática e fervoroso republicano.
Durante a sua estadia em São Tomé, promoveu a Associação Pró Pátria, destinada a dar apoio ao colono, ao seu eventual repatriamento e/ou dos seus familiares.
Em 24 de janeiro de 1905, discursou no funeral do artista republicano Rafael Bordalo Pinheiro.
Estreou-se na atividade partidária nas fileiras do Partido Republicano Português (PRP). Nas eleições de 1905, apresentou-se como candidato pelo círculo de Lisboa, não sendo, no entanto, eleito.
No Congresso do PRP de julho de 1906, foi eleito para o directório com António Luís Gomes, Bernardino Machado, Afonso Costa e Celestino de Almeida. Cedo se tornou uma das figuras mais conhecidas e prestigiadas do republicanismo.
Nas eleições de 19 de agosto do mesmo ano, foi eleito deputado do PRP pelo círculo oriental de Lisboa, ao lado de Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Meneses (estes dois últimos por Lisboa Ocidental).
Escreveu para vários jornais, sobretudo para A Lucta, mas foi no Parlamento e nos comícios dos últimos anos da Monarquia que a sua eloquência e arte retórica fizeram dele o caudilho indiscutível da causa republicana.
Durante o debate sobre a questão dos «adiantamentos à Casa Real» (1906), e na sequência da expulsão de Afonso Costa e Alexandre Braga da Câmara dos Deputados pelos seus «excessos verbais» contra o rei, Almeida improvisou um discurso convidando os soldados a aliar-se à revolução republicana.
Em 1907, entrou na Maçonaria (loja Montanha, n.º 214, de Lisboa) com o nome simbólico de Álvaro Vaz de Almada (um dos companheiros do infante D. Pedro). Mais tarde, veio ainda a pertencer à Carbonária.
Conspirador contra a ditadura de João Franco, participou ativamente na preparação do movimento revolucionário para derrubar a Monarquia.
A ação repressiva da ditadura provocou uma mudança na definição da estratégia do PRP. Gradualmente, a linha que defendia a ação revolucionária imediata foi ganhando terreno, o que conduziu à aliança com outras forças, nomeadamente a Carbonária e a Corporação dos Sargentos.
Uma denúncia levou à prisão dos principais chefes: Luz de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e António José de Almeida, que estabeleceu os contactos entre o diretório do partido e a organização revolucionária. Privado dos seus principais líderes, o movimento veio para a rua, mas foi prontamente sufocado. António José de Almeida foi preso em 26 de janeiro de 1908 e logo libertado após o regicídio.
Em 5 de abril de 1908, foi novamente eleito como deputado.
No Congresso Republicano de 1909, foi nomeado um Comité Revolucionário. Da secção militar faziam parte Cândido dos Reis, João Chagas e Afonso Costa e a direcção da parte civil foi entregue a António José de Almeida.
Em 1910, fundou às suas expensas a revista Alma Nacional, que dirigiu, e onde colaborou assiduamente até à proclamação da República.
Nas eleições de 28 de agosto de 1910 (as últimas da Monarquia Constitucional), foram eleitos 14 deputados republicanos, entre os quais Almeida.
Proclamada a República em 5 de outubro de 1910, foi nomeado ministro do Interior do governo provisório presidido por Teófilo Braga. À frente do Ministério, que tutelou até setembro de 1911, desenvolveu uma intensa atividade, sobretudo no campo da instrução pública.
Todavia, o destaque vai para o decreto da sua autoria, lançado em 14 de março de 1911, que revogava a Lei Eleitoral de 1901 - a «Ignóbil Porcaria», como ficou conhecida. Entre outras medidas, este decreto alargava substancialmente o sufrágio: foi concedido direito de voto a todos os portugueses maiores de 21 anos (não especificando o sexo) que soubessem ler e escrever, ou que, não o sabendo, fossem chefes de família há mais de um ano. Ao contrário do que sempre fora defendido pelo republicanismo, este decreto não instituiu o sufrágio universal.
Ainda ministro, fundou e dirigiu o jornal República (1911), que se tornou o órgão de combate e de expressão dos republicanos que se oponham a Afonso Costa e às suas tendências radicais. Aí escreveu continuamente até 1919.
Em fevereiro de 1912, fundou o Partido Evolucionista (PE), por discordar da linha política seguida por Afonso Costa no PRP. Mau grado a sua aparente força e a projeção nacional que alcançou, as alianças e as atitudes levadas a cabo pelos seus representantes parlamentares deram-lhe uma imagem demasiado direitista.
Em janeiro de 1913, foi chamado a formar governo pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, o que não conseguiu, sendo o executivo entregue ao seu adversário Afonso Costa.
Em agosto, foi eleito presidente do Partido Evolucionista (PE).
Após a eclosão da I Guerra Mundial (1914-1918), defendeu a intervenção de Portugal no conflito sob a alçada da aliança inglesa.
Em 1915, apoiou o primeiro-ministro Pimenta de Castro, mesmo depois da instauração da ditadura e da proibição de o Congresso se reunir.
Em 1916, perante a gravidade da situação internacional, António José de Almeida reconciliou-se com Afonso Costa e aceitou a presidência do governo da «União Sagrada» (março de 1916 a abril de 1917), onde também geriu a pasta das Colónias.
Eleição
António José de Almeida foi eleito Presidente da República em 6 de agosto de 1919. Proposto pelos partidos Evolucionista e Unionista, dispôs do apoio de muitos Democráticos.
No primeiro escrutínio, teve uma vantagem de apenas 5 votos relativamente a Manuel Teixeira Gomes. No segundo, também nenhum candidato alcançou os dois terços necessários. Finalmente, no terceiro, António José de Almeida obteve 123 votos contra 31 de Teixeira Gomes e 13 listas brancas.
Tomou posse em 5 de outubro de 1919.
António José de Almeida foi o único Presidente da I República que cumpriu integralmente os quatro anos de mandato (até 5 de outubro de 1923).
Depois da presidência
Findo o seu mandato presidencial, António José de Almeida regressou ainda às lides políticas, sendo eleito deputado por Lisboa em 1925.
Contudo, a breve trecho, a doença afastou-o definitivamente da política. Obrigado a viver os últimos anos numa cadeira de rodas, refugiou-se no convívio familiar, rodeado pelos amigos. Viveu modestamente, gasta que estava a pequena fortuna que amealhara em São Tomé.
Até ao fim dos seus dias, continuou a ser considerado como uma espécie de «presidente honorário» da República, estatuto que lhe foi reconhecido mesmo pelos dirigentes da Ditadura Militar instaurada em 1926, que ganharam o hábito de o visitar no dia 5 de outubro.
Em inícios de 1929, foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, mas não chegou a tomar posse devido ao seu estado de saúde.
Atacado de gota, morreu em Lisboa em 31 de outubro de 1929. Em sua memória, foi erigido um monumento da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquiteto Pardal Monteiro na atual Avenida António José de Almeida (1937). A oposição à ditadura fará da romagem ao local, nas comemorações do 5 de outubro, uma manifestação de protesto contra o regime.
Também o jornal República, por ele fundado em 1911, continuou a ser publicado, tornando-se a tribuna preferencial dos oposicionistas ao regime ditatorial.
Mandato Presidencial
5 de outubro de 1919 - 5 de outubro de 1923
Durante o mandato presidencial de António José de Almeida, Portugal pagou, do ponto de vista económico e financeiro, a «elevada fatura» da sua intervenção na I Guerra Mundial. Por um lado, as indemnizações alemãs, fundamentais para o pagamento das dívidas de guerra à Inglaterra, não chegaram. Por outro, a velha aliada cancelou a assistência financeira a Portugal.
Às classes trabalhadoras, o fim do conflito também não trouxe a abundância imediata: escasseavam bens alimentares e as greves contra a carestia multiplicavam-se. Estes foram anos de instabilidade e agitação.
De janeiro a maio de 1920, a confrontação social entre os trabalhadores, o Estado, a pequena e a média burguesia e o patronato atingiu níveis elevados.
Greve dos trabalhadores dos telefones e da indústria corticeira em janeiro; dos ferroviários, correios, telégrafos e tabacos em março, e novamente dos ferroviários em setembro. Em janeiro de 1921, teve início a greve geral dos trabalhadores da imprensa, com prolongamento até maio seguinte; em janeiro de 1922, foi a vez da Carris e dos conserveiros de Setúbal e, em agosto, ocorreram duas greves gerais: uma contra a carestia de vida, e outra provocada pela repressão anti-operária.
As manifestações e os comícios, os atentados bombistas e os assassinatos sucediam-se. Aumentavam também os despedimentos, as iniciativas de assalto às sedes de sindicatos e jornais operários, as prisões e deportações de dirigentes e ativistas sindicais, a mobilização sistemática de contingentes policiais e militares - em 8 de agosto de 1922, a polícia invadiu o Sindicato Único Metalúrgico, encerrou a Confederação Geral do Trabalho e a União Socialista Operária (reabriram, contudo, a 28 do mesmo mês).
A instabilidade política vivida deveu-se em grande parte à incapacidade demonstrada pelo Partido Democrático em conseguir maiorias absolutas que lhe permitissem governar sem depender do apoio de outros partidos.
A luta ideológica intensificou-se e traduziu-se na constituição de novos partidos políticos: em 1920, foi fundado o Núcleo de Acção de Reconstituição Nacional, que mais tarde se veio a converter no Partido Republicano de Reconstituição Nacional; no ano seguinte, surgiu o Partido Comunista Português e, em 1923, o Partido Republicano Radical.
Durante o mandato de António José de Almeida, os governos sucederam-se vertiginosamente (14 chefes de Governo em quatro anos) com uma duração média de três meses; por duas vezes (em 1921), o Presidente da República dissolveu o Congresso, obrigando à realização de eleições legislativas.
Só em 1920, tomaram posse sete ministérios. Em 1921, embora se registasse uma maior estabilidade, sucederam-se mais seis governos.
Em agosto desse ano, tomou posse o ministério chefiado por António Granjo. Manteve-se em funções até 19 de outubro, quando ocorreu uma tentativa revolucionária que ficou conhecida como a «noite sangrenta».
Por ocasião do golpe perpetrado pelo coronel na reserva Manuel Maria Coelho, o capitão-de-fragata Procópio de Freitas e o major Cortês dos Santos, com o apoio dos setores republicanos radicais da Marinha e da GNR, ocorreram em 19 de outubro de 1921 diversos tumultos que se prolongaram pela noite dentro. Impossibilitado de resistir contra os revoltosos, o presidente do Ministério, António Granjo, apresentou a demissão ao Presidente da República, que imediatamente a aceitou.
Não obstante, os desacatos continuaram. Nessa noite, António Granjo foi sequestrado por um grupo de marinheiros, soldados da GNR e civis armados, e morto a tiro no Arsenal da Marinha. Carlos da Maia, Machado Santos e o comandante Freitas da Silva (chefe de gabinete do ministro da Marinha, Ricardo Pais Gomes) foram igualmente assassinados; Cunha Leal e o coronel Botelho de Vasconcelos (ex-ministro de Sidónio) foram feridos e o último acabou por não resistir. Manuel Maria Coelho assumiu o poder.
O chefe de Estado ficou profundamente abalado. Soube que o seu nome constava da lista dos que se planeava liquidar. Após o funeral de Granjo, anunciou o desejo de renunciar à Presidência da República, intenção que não chegou a concretizar tendo em conta a manifestação de apoio convocada pelas autarquias locais em 30 de outubro. Porém, a credibilidade da República estava irremediavelmente ferida.
No dia 3 de novembro, o governo pediu a demissão e a 5 foi nomeado o ministério «outubrista» de Maia Pinto com colaboração de populares e dissidentes. No dia seguinte, o Presidente da República dissolveu o Parlamento e as eleições foram marcadas para 11 de dezembro.
Ainda em novembro, no dia 16, António José de Almeida encarregou Cunha Leal da tarefa de constituir novo gabinete. O seu ministério marcou a transição para os habituais governos partidários. Participado por liberais, reconstituintes e democráticos, durou até 6 de fevereiro do ano seguinte.
Em 29 de janeiro de 1922, novas eleições deram a vitória aos democráticos, que conseguiram reduzir amplamente a força da GNR, deixando esta de representar qualquer perigo para o futuro. Cunha Leal entregou o poder aos vencedores e ao seu líder, António Maria da Silva.
O Partido Democrático ocupou a presidência do Ministério ininterruptamente de fevereiro de 1922 a novembro de 1923, não sem antes Afonso Costa, que se encontrava em Paris, ter declinado o convite feito por António José de Almeida para vir chefiar um «governo de salvação nacional».
A situação geral do país tendeu a melhorar à medida que os efeitos da guerra se foram atenuando. A travessia aérea do Atlântico por Gago Coutinho e Sacadura Cabral (março de 1922) e a viagem presidencial de António José de Almeida ao Brasil (agosto / setembro de 1922), por ocasião da comemoração do centenário da independência, fizeram esquecer durante algum tempo os males que assolavam a nação.
Visitas de Estado
Em 1922, os Reis da Bélgica e o Príncipe do Mónaco visitam Portugal durante a presidência de António José de Almeida. Por sua vez, o Presidente da República António José de Almeida realiza uma histórica Visita de Estado ao Brasil por ocasião das comemorações do centenário da independência deste País, em 1922.
Retrato Oficial
Não há certeza quanto à data de realização do retrato, da autoria do pintor Henrique Medina. Admite-se que terá sido em 1932, portanto quando António José de Almeida havia já falecido. O Governo, nos primeiros anos da Ditadura, encomendou ao mesmo pintor um conjunto de retratos de antigos Presidentes, com vista a completar a Galeria dos Retratos.
Henrique Medina retratou António José de Almeida sentado numa cadeira Luís XVI, tendo como pano de fundo um fogão de sala e um vaso de porcelana, pormenores decorativos que lembram os interiores do Palácio de Belém.