Hino Nacional

O hino nacional A Portuguesa substituiu o Hino da Carta após a Implantação da República portuguesa a 5 de Outubro de 1910. Tratava-se de uma marcha composta em 1890 (na sequência do Ultimato britânico), com música de Alfredo Keil e letra de Henrique Lopes de Mendonça. Nesse contexto, o objetivo d'A Portuguesa era exaltar o patriotismo e orgulho nacionais em oposição à orientação do Rei D. Carlos, acusado de ceder à intimação britânica.

A marcha acabou por ser consagrada hino nacional na Assembleia Nacional Constituinte de 19 de junho de 1911.

Escute A Portuguesa, o Hino Nacional de Portugal:

Origem

Alfredo Keil terá composto a marcha patriótica A Portuguesa na noite de 12 de janeiro de 1890, e, a seu pedido, o poeta Henrique Lopes Mendonça redigiu a letra nos finais do mesmo mês. O ponto de partida era a reação ao Ultimato britânico que provocara uma onda de indignação nacional.

A iniciativa surgiu durante um jantar de amigos frequentadores da Tabacaria Costa do Rossio e da editora musical Neuparth no Chiado, do qual faziam parte, entre outros, Keil, Augusto Neuparth, o Duque de Palmela, Rafael Bordalo Pinheiro, Sebastião de Magalhães Lima e Teófilo Braga.

A Portuguesa pretendia ser essencialmente um “canto em que se consubstanciasse a alma da pátria ferida, com as suas aspirações de liberdade e de revivescência vigorosa” e um hino que pudesse ser rapidamente aprendido pelo povo e adotado “como um caso de reivindicação nacional” (Henrique Lopes de Mendonça).

Estes sentimentos estavam presentes nas referências musicais seguidas por Keil: a Marselhesa, o fado e o Hino da Maria da Fonte.

Divulgação

A marcha A Portuguesa obteve larga difusão desde a sua criação, pelo que em fevereiro de 1890 a Neuparth & C.ª edita a partitura para distribuição gratuita. A tiragem foi de mais de 22 000 exemplares, números excecionais para a época. A divulgação contou com a distribuição de folhetos, prospetos e a fixação de cartazes. Esta difusão estendeu-se a outros países da Europa, com a tradução dos versos em alemão, espanhol, italiano e russo.

A Portuguesa teve ainda particular destaque em diversos palcos de Lisboa, nomeadamente no Real Teatro de São Carlos a 29 de março de 1890, onde se deu o “Grande Concerto Patriótico” a favor da “Grande Subscrição Nacional”.

No final de abril A Portuguesa constava dos programas de 3 dos 8 teatros de Lisboa e começava a ser ouvida pelas ruas.

Popularidade

A 20 de abril de 1890, no intervalo de concorrida tourada que tem lugar na praça de touros de Sintra com a presença do Rei D. Carlos, igualmente a favor da “Grande Subscrição Nacional”, o público pede a execução da marcha A Portuguesa. O Rei acede, e a maioria escuta-a de pé sem chapéus na cabeça – sinal de respeito.

A marcha é também utilizada para fins comerciais. Diversos produtos ostentam imagens com ela relacionada ou que recebem o seu nome: surgem as sardinhas “A Portuguesa”, os charutos “A Portuguesa” ou as bolachas “A Portuguesa”.

A popularidade conquistada pela marcha leva ainda ao seu aproveitamento político. De canto patriótico, depressa se transforma em hino republicano, embora em algumas zonas do país continuasse a ser preterido pelo Hino da Maria da Fonte.

Algumas dúvidas surgiram quanto aos reais propósitos de Alfredo Keil ao compor a marcha, pois se havia quem enfatizasse as opções republicanas do autor e o cariz antimonárquico de A Portuguesa, outros negavam-no. No entanto, os republicanos esforçavam-se em salientar o carácter subversivo da canção, que segundo estes, era adversa às autoridades constando rumores de que a sua proibição estaria iminente. É neste contexto que, no final de abril de 1890, Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça vêm a público demarcar-se das apropriações políticas e sublinhar a intenção patriótica da ação em curso.

Mas a 31 de janeiro de 1891, a tentativa de implantação da República no Porto é feita ao som de A Portuguesa. A banda de Infantaria 18, que acompanha as tropas revoltosas no percurso entre o Campo de Santo Ovídio e a Praça de D. Pedro, teria tocado a marcha.

O acontecimento fez crescer a desconfiança por parte do Governo e A Portuguesa deixa de ser tocada pelas bandas regimentais.

Voltaria a ouvir-se à revelia, no verão de 1897, aquando da chegada a Lisboa do cruzador Adamastor, mandado construir em Livorno com os fundos da “Grande Subscrição Nacional”, para oferta à Coroa portuguesa, em nome da defesa nacional. Na ocasião, a imprensa republicana exigiu a execução da marcha na receção oficial. Perante a renitência da imprensa liberal em admitir que A Portuguesa era o verdadeiro hino nacional, acusam as autoridades de a terem banido. Porém, esta acabou por ser tocada pelas bandas militares presentes, intercalada com o Hino da Carta, nas cerimónias de 7 e 15 de agosto. Perante esta conjuntura, a Neuparth & C.ª edita novamente prospetos da marcha, semelhantes aos de 1890, mas acrescenta-lhes a sobreimpressão da palavra “Lembra-te”.

Consagração do Hino

Na manhã de 5 de outubro de 1910, as forças republicanas em Lisboa desciam a Avenida da Liberdade, desde a Rotunda, acompanhadas pelas bandas de música de Caçadores 5 e de Infantaria 6 que tocam incessantemente A Portuguesa. A implantação da República dá-lhe legitimidade de hino nacional, e a 17 de novembro de 1910 uma nota do ministro da Guerra do Governo Provisório determina: “Que sempre se execute o hino nacional, A Portuguesa!”. Seguem-se novas edições da partitura da marcha, tanto pela Neuparth & C.ª como pela Imprensa Nacional. As cores de fundo da impressão passam a ser o verde e o vermelho; substituindo o azul e branco.

Finalmente, na primeira sessão da Assembleia Nacional Constituinte, realizada a 19 de junho de 1911, A Portuguesa é consagrada como hino nacional.

Multimédia

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«Diário do Governo» com a partitura do Hino Nacional de Portugal, tornando oficiais as alterações introduzidas em 1957. Partitura «A Portuguesa», com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, oferecida ao Museu por Francisco Keil do Amaral Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), retratado por Columbano Bordalo Pinheiro Alfredo Keil (1850-1907) Versão simplificada d'«A Portuguesa», ainda em vigor